tag:blogger.com,1999:blog-33306428284379812502024-03-04T23:01:24.119-08:00O Provador de Venenos"Provador de venenos, sua prioridade é o risco" (Tom Jobim)João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.comBlogger81125tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-10388055820811271752013-06-15T17:39:00.002-07:002013-06-25T13:31:33.217-07:00Esta é a carta que nunca te escrevi. <span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<br />
<div style="min-height: 14px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;">O nosso João nasceu em 8 de Agosto de 1950, no Porto, cidade que sempre fez parte da sua identidade.</span><span style="letter-spacing: 0px;"> </span></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">No dia em que nasceu, o seu pai, o Engenheiro Francisco Almeida e Castro, Presidente da CP, homem pelo qual sempre nutriu a mais profunda admiração e respeito, estava nos Estados Unidos, num comboio a caminho de Chicago, preso durante dias numa tempestade de neve, viagem essa que resultou na introdução em Portugal da primeira locomotiva diesel.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Era ainda criança quando a família se mudou para Lisboa, cidade que amou profundamente, e onde cresceu e viveu quase toda a sua vida.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">O Zinho, como a família sempre o chamou, corria e brincava na zona da Av. Roma e frequentou o Liceu Camões onde foi um aluno exemplar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Enquanto jovem revelou ter um assinalável jeito para o desenho e um sentido estético apurado que facilmente poderia tê-lo levado a ter se tornado num grande artista plástico, facto facilmente comprovável pelos seus inúmeros desenhos e pequenas pinturas que há poucos anos reencontrei, arrumados numa velha caixa.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Educado em piano clássico por uma querida professora que mais tarde veio ser também minha e da minha irmã, a música sempre teve uma importância enorme para ele. Na nossa casa a música inundava constantemente o espaço, paixão visível pela forma como coleccionava LP’s, como se fossem a banda sonora da nossa felicidade.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Foi já na Faculdade de Economia que conheceu a senhora minha mãe, mulher carinhosa e de forte carácter, que desde o primeiro momento amou de forma sempre leal e honesta. Juntos partilharam as alegrias e dificuldades da vida, próprias de um jovem casal. </span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Enquanto estudantes, envolveram-se activamente na luta política contra o regime fascista, da qual não faltam histórias absolutamente fantásticas algumas que ele próprio nos contou e outras que ainda vou descobrindo nos relatos de alguns dos seus bons amigos.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Várias vezes teve a grandeza de agir de forma contra-intuitiva, em nome da liberdade de pensamento que sempre defendeu com unhas e dentes.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">3 anos após a revolução, teve o seu primeiro filho, eu, e passados 3 anos teve uma filha, a menina dos seus olhos, a minha irmã Inês.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Connosco sempre tratou de forma carinhosa, sempre um bom pai, sempre nos deu todas as oportunidades. </span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;"></span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">O seu percurso profissional levou-o ao Marketing e à Publicidade, passando pela Direcção de Marketing de grandes empresas internacionais como a Ogilvy e a Wunderman e culminando na criação de uma Agência de sucesso, a Interact e mais recentemente na Ology, onde tive a enorme sorte de trabalhar a seu lado.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Guardo com muito carinho e saudade estes últimos 3 anos que passámos juntos, diariamente, e em que tanto me ensinou. Feliz circunstância essa em que, no auge da crise, perdi o meu emprego em Londres, o que me trouxe de volta a Portugal, de volta ao meu Pai e à senhora minha Mãe. Feliz circunstância essa que me permitiu este período em que reaprendi a estar com eles, a valorizá-los mais e a encontrá-los, em mim.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Possuidor de uma cultura absolutamente enciclopédica, que toda a vida alimentou consumido livros, música e cinema a uma velocidade estonteante, o João tornou-se conhecido na sua vida profissional pela verticalidade de princípios, pelo imenso respeito pelos outros, pelo seu altruísmo militante e pelo compromisso absoluto de continuamente se superar enquanto homem.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Era um homem pacifico, mas nunca conformado, sempre exigente com a vida e com os outros na mesma proporção em que era exigente consigo próprio. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">De entre as suas excepcionais qualidades sempre me impressionou a sua capacidade de sintetizar assuntos complicadíssimos, de resolver a complexidade sem qualquer esforço aparente. Como um artista que resolve tudo com um só gesto.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Sempre cuidado na sua presença, sempre ponderado nas suas palavras, o João era um verdadeiro alquimista no uso da palavra. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Apreciava o discurso da mesma forma que sabia apreciar o silêncio.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Sabia ouvir os outros, era tolerante, e aceitava a diferença como ninguém.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Não se impunha, entendia e respeitava o espaço de cada um.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Era um grande conversador, um verdadeiro contador de histórias.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Vamos ter muitas saudades de o ouvir e de o ler. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Da sua voz e da alegria que disponibilizava em tudo o que fazia.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Era um homem que amava ensinar e que se envolvia como um pai no percurso dos muitos alunos que tiveram a sorte de o ter como professor. Sei agora como essa forma de se relacionar com os alunos era apreciada e por isso reciproca.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">O João era um homem que nunca se demitiu das suas responsabilidades.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Há uns dias, pedi-lhe que delegasse em mim os compromissos profissionais que o apoquentavam. E ele disse: “ Não filho, em Julho, quando eu estiver melhor, eu próprio tratarei dos assuntos pendentes e de ver os trabalhos dos meus alunos.”</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Na fase final da sua doença, é assinalável o enorme prazer que retirava das visitas dos seus amigos. As conversas com os amigos pareciam um remédio milagroso, e não fora o cansaço físico dir-se ia que estava encontrada a cura que o traria de volta.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Faltam-me as palavras para descrever a forma incrível como se manteve lúcido até aos últimos dias em que a vida o traiu. Impressionou-nos a forma como nunca se queixou da sua má sorte. Como manteve sempre a sua elevação e o seu acutilante sentido de humor. </span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">No meu aniversário, no passado dia 5 de Junho, ele estava, fraco, deitado numa cama de hospital, e eu aproximei-me dele e disse-lhe:</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">“Parabéns querido pai, faz hoje 36 anos que me tiveste. Lindo serviço!” </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Ao que ele me respondeu na sua doce e já algo debilitada voz: </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">“Sabes André, foi o que se pôde arranjar.”</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">O nosso João nunca desistiu de viver. Caiu de pé como todos os grandes homens.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Defendeu as muralhas da cidade como ninguém, lutando como um herói, pronto a dar tudo pela sua família, pelos seus amigos e por tudo aquilo em que acreditava.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Nunca falou da morte talvez por não acreditar nela. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Nunca mostrou uma pinga de medo. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">E isso é para mim a verdadeira imortalidade.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Da enorme tristeza de o ver partir, sobra-nos o alivio que sentimos de saber do fim do seu sofrimento e resta-nos a eterna saudade. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">É hoje nossa obrigação manter a sua memória viva aprendendo com ele a viver a vida até ao último momento, sempre com a máxima dignidade e amor pelo próximo.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Esta é a carta que nunca te escrevi.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Até já querido amigo,</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">André Castro</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0px;"></span><br /></span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<br /></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-84779707996731316592013-06-15T05:21:00.001-07:002013-06-19T02:48:40.205-07:00Professor Doutor João Manuel Pinto e Castro 08/08/1950 – 14/06/2013 <br />
<div style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 14px; margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0.0px;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8oFBbe7KZ6iscaYIaTb9n8pGS5MxSsf_tulRZVtiCEt_P3s-xlCqmUqhlAkHmkvppqYXs15Xf5Va2cbnL8ZVPt7kdAocdokUuxiMSnphWrmHkbE-neVxBGbStXwFe13AB0HcX3SKkwVJn/s1600/Joao%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8oFBbe7KZ6iscaYIaTb9n8pGS5MxSsf_tulRZVtiCEt_P3s-xlCqmUqhlAkHmkvppqYXs15Xf5Va2cbnL8ZVPt7kdAocdokUuxiMSnphWrmHkbE-neVxBGbStXwFe13AB0HcX3SKkwVJn/s320/Joao%5B1%5D.jpg" width="212" /></a></div>
<div style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 14px; margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 14px; margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Sua mulher Maria Regina Lourenço Ferreira, seus filhos André Ferreira e Castro e Inês Ferreira de Castro, sua mãe Maria Alice Torres Pinto de Castro, sua irmã Maria Leonor Pinto e Castro e demais família, participam o falecimento do seu ente querido na sequência de doença prolongada.</span></div>
<div style="margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<br /></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-69737327929786314422013-03-19T04:57:00.000-07:002013-03-20T04:57:48.169-07:00A guerra dos sabe-se lá quantos anos<div class="lead p20">
"Quanto tempo vai isto ainda durar?" – eis a
pergunta que hoje todos se colocam. Infelizmente, a resposta não pode
ser senão: "A permanecer o actual curso das coisas, muitos e muitos
anos." Vejamos porquê.</div>
<div class="lead p20">
</div>
Há uma crise mundial e há uma crise
especificamente europeia, muito distintas embora com uma raiz comum. A
mundial, que deflagrou vai para seis anos ao rebentar a bolha do
subprime, não tem uma única origem, mas várias. Uma das mais relevantes é
o elevadíssimo nível de dívida acumulado pelas famílias, pelas empresas
e pelos estados. Essa circunstância decorre, por sua vez, de nas
últimas décadas os bancos centrais e, por maioria de razões, os estados
terem perdido o controlo sobre a expansão do sistema financeiro global.<br />
<br /><span>O dinheiro é uma coisa que se fabrica, mas não consiste no
essencial em notas e moedas postas em circulação pelos bancos centrais.
Dinheiro é, na verdade, qualquer título de dívida que é aceite como meio
de pagamento, e é por isso que a sua criação se encontra no essencial
nas mãos dos bancos. Abolindo-se como se aboliu a distinção entre banca
comercial e banca de investimento e admitindo-se ao mesmo tempo níveis
baixíssimos de autofinanciamento das instituições financeiras, criou-se a
montanha de dívida que agora pesa sobre todos nós.</span><br /><br /><span>Se
as economias crescessem, gerar-se-iam recursos suficientes para
pagá-la. Mas de onde virá o crescimento, se nem famílias, nem empresas,
nem estados têm condições para gastar mais? Exigir-se que a dívida seja
inteiramente paga equivale, portanto, a condenar a economia a permanecer
estagnada durante uns vinte a trinta anos.</span><br /><br /><span>Parece
inegável que o desbloqueamento das economias ocidentais exige uma
desvalorização generalizada da dívida, seja através de negociações caso a
caso, seja através de um aumento generalizado dos preços (vulgo
inflação). Uma operação desse tipo implicaria, porém, uma massiva
redistribuição de rendimentos dos credores para os devedores, razão por
que é obstinadamente recusada por quem detém as rédeas do poder político
e económico.</span><br /><br /><span>Viremo-nos agora para o outro lado do
problema, ou seja, para a crise especificamente europeia. Ao contrário
da anterior, esta é, na sua essência, uma crise política com um pretexto
económico, fabricada de todas as peças pelo governo alemão coadjuvado
pelo BCE, quando, em 2010, ao julgar ter resolvido o seu particular
problema doméstico, lançou a palavra de ordem "cada um por si". Sabe-se
há muito que o euro sofre de malformações congénitas. Ainda assim, a
zona euro no seu conjunto não padece de desequilíbrios financeiros
externos ou internos. O problema só surgiu quando se começou a partir
aos bocadinhos um sistema que era suposto ser uno, coeso e solidário.</span><br /><br /><span>A
crise do euro foi criada pela má-fé da Alemanha, que viu na crise
internacional uma oportunidade única de impor a sua hegemonia política,
económica e financeira no velho continente. Esse projecto avançou sem
sobressaltos de maior até ao momento em que o contágio atingiu a Espanha
e a Itália, cuja ruína ameaça os próprios fundamentos do euro. Não há
forma de acudir-lhes se a situação se agravar, de modo que, após muitas
hesitações, o BCE decidiu-se a intervir e a Alemanha resignou-se a
aceitar os princípios da união bancária, da união fiscal e, a prazo, da
mutualização parcial da dívida. Porém, assim que a iniciativa do BCE
começou a dar resultados, Merkel renegou a sua palavra e adiou tudo para
2014.</span><br /><br /><span>Os optimistas profissionais apontam a
drástica redução dos "spreads" dentro da zona euro como prova de que
estamos no bom caminho. Mas alguém acredita que é possível que a
Espanha, por exemplo, sobreviva por muitos anos com taxas de desemprego
gerais a rondar os 25% e taxas de desemprego juvenil acima dos 50%? E,
no entanto, é isso que nos espera, a persistir a insistência na
austeridade sem fim à vista, na expectativa de que, mais tarde ou mais
cedo, sabe-se lá como, a economia entregue a si própria acabará por
milagrosamente dar a volta.</span><br /><br /><span>A única coisa segura é
que a UE se encontra em processo acelerado de desagregação, como ainda
neste último fim-de-semana o Ecofin se encarregou de nos lembrar ao
aprovar o tresloucado acordo imposto a Chipre que transforma todos os
seus cidadãos em membros da comissão de honra para a reeleição da Prof.
Drª Ângela Merkel.</span><br /><br /><span>Que fazer? Sair do euro não é,
por enquanto, uma opção atraente. Porém, as estimativas que há dois anos
nos ameaçavam com uma quebra dos salários da ordem dos 30% em tal
eventualidade estão em vias de ser ultrapassadas pela realidade – e
ninguém nos garante que ficaremos por aqui.</span><br /><br /><span>Os povos
da Europa estão hoje sujeitos a um processo de violência objectiva,
fria, calculada, impessoal e anónima, conduzida por carrascos que não
olham as vítimas nos olhos e contra os quais nada podem os usuais
mecanismos de deliberação democrática. Sair do euro implica seguramente
terríveis riscos, mas poderá chegar um tempo em que os encararemos como
um mal menor. Para já, precisamos urgentemente de abandonar a ilusão de
que, mais mês menos mês, despertaremos deste pesadelo.</span><br />
<br />
<span><b>Publicado no Jornal de Negócios em 19.3.13 </b></span>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-22980292845147353182013-03-19T04:53:00.000-07:002013-03-20T04:53:36.671-07:00A maldição do estado social<div class="lead p20">
Variam muito as opiniões sobre que funções cabem
ao certo na definição do estado social, mas toda a gente parecer
concordar que entre elas se contam a saúde e a educação.<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"> </span>Ora, um dos problemas que ameaçam a sua
sustentabilidade decorre da tendência, ao que parece inexorável, para a
escalada dos custos associados a essas duas áreas do serviço público.
Quais as causas da pressão que elas assim colocam sobre o equilíbrio das
contas públicas? </div>
<div class="lead p20">
</div>
<span>Muitos afirmam que a saúde custa cada vez mais porque a
população está a envelhecer, médicos e pacientes são pouco sensíveis ao
problema e o progresso tecnológico por si mesmo suscita a expansão
inconsiderada de exames e tratamentos. Quanto à educação, culpa-se o
alargamento da escolaridade média e o poder sindical dos professores
pelo agravamento da factura da educação.</span><br /><br /><span>Em todos
esses factores haverá alguma verdade, mas a essência do problema reside
alhures: tanto a saúde como a educação são actividades intensivas em
trabalho e pouco susceptíveis de automatização, por isso, não aumentando
ou aumentando pouco a sua produtividade, tenderá a crescer o seu preço
relativo.</span><br /><br /><span>O economista americano William Baumol fez
há muito notar que o potencial de aumento de produtividade varia imenso
de actividade para actividade. Hoje, como no século XIX, são necessários
quatro músicos para tocar um quarteto de Beethoven; entretanto, a
produção de uma camisa de algodão exige hoje uma fracção das horas de
trabalho utilizado naquela época. O resultado é que o preço de uma
camisa baixou muito em relação ao de um bilhete para escutar um quarteto
de Beethoven; ou, inversamente, o segundo aumentou muito em relação ao
primeiro.</span><br /><br /><span>Logo, se a procura que lhes é dirigida não
diminuir, aumentará continuamente o peso na despesa nacional dos gastos
com bens produzidos por sectores de produtividade baixa ou estagnada. É
em parte por isso que a proporção dos serviços no PIB cresceu
imparavelmente até se situar hoje nos países desenvolvidos entre os 80% e
os 90%, o que é interpretado por uma opinião pública mal informada como
sintoma de desindustrialização e decadência económica. É também por
isso que, concentrando-se a actividade produtiva do estado nos serviços,
tende a crescer o peso dos gastos públicos no PIB.</span><br /><br /><span>A
perspectiva da subida contínua dos preços relativos dos serviços
pessoais trabalho-intensivos resistentes à automação afigura-se, à
primeira vista, algo assustadora. Segundo algumas estimativas, se os
custos dos cuidados de saúde continuarem a subir como até agora,
saltarão de 15% do rendimento do americano médio em 2005 para 62% em
2105, um século depois. Nessas condições, uma vez pagas essas e outras
despesas com serviços essenciais, pouco sobrará para tudo o resto,
incluindo coisas tão vitais como habitação, transporte, alimentação e
vestuário. Note-se, além disso, que esta previsão em nada depende de a
prestação dos serviços de saúde ser pública ou privada.</span><br /><br /><span>Como
corolário desta dinâmica dos custos, caso uma parte substancial da
saúde e da educação continue a ser assegurada pelo estado, a despesa
pública representará uma parte cada vez maior do rendimento nacional,
certamente muito superior aos 50% que já hoje são comuns nos países mais
desenvolvidos e que tanto alarmam muito boa gente.</span><br /><br /><span>Sucede,
porém, que a generalizada preocupação com este problema resulta em boa
parte de um mal-entendido e que a cura usualmente proposta para o
resolver pode ter resultados bem mais graves que a doença. Desde logo,
embora uma parte cada vez mais reduzida do rendimento seja dedicada à
aquisição de bens físicos, o crescimento sustentado da produtividade
agrícola e industrial significa precisamente que essa parcela, embora
menor, nos permite comprar cada vez mais alimentos, automóveis, roupas
ou computadores. De modo que poderemos ter ao mesmo tempo acesso a mais
bens produzidos tanto pelo sector crescentemente automatizado da
economia como pelo de produtividade estagnada.</span><br /><br /><span>O
problema não reside, pois, na existência de actividades que, pela sua
própria natureza, oferecem escassas oportunidades de aumento da
produtividade, mas na errada percepção das causas do aumento dos seus
preços relativos e na tentativa de impor soluções desajustadas. Se o
financiamento da saúde e da educação for estrangulado a pretexto de que
não há alternativa, assistiremos simultaneamente à degradação da
qualidade dos serviços prestados e à exclusão de cada vez mais cidadãos
do acesso aos seus benefícios, com o que toda a economia e toda a
sociedade acabarão por ser prejudicadas.</span><br /><br /><span>Por outras
palavras, se as forças políticas e os governos se aferrarem a regras
arbitrárias e irracionais do tipo: "o custo da educação não pode
ultrapassar 5% do produto" ou "a despesa pública deve situar-se abaixo
dos 50% do produto", estarão a criar artificialmente um problema, onde
nenhum existe. É a essa fábula que se pode com propriedade chamar "a
maldição do estado social".</span><br /><br /><span>No seu recente e
inspirador livro, "The Cost Disease", William Baumol lança este aviso:
"Se os governos não forem persuadidos por estas ideias, os cidadãos
poderão ver ser-lhes negados saúde, educação e outros benefícios porque
‘parecem’ ser inacessíveis, quando de facto não o são." E acrescenta: "A
continuação do crescimento da produtividade geral permitirá que a
família típica continue a desfrutar de uma abundância de bens; porém, se
o estado reagir de forma inapropriada, os cidadãos poderão ser
penalizados por uma forte degradação dos serviços públicos em áreas como
a recolha de lixo."</span><br />
<br />
<span><b>Publicado no Jornal de Negócios em 19.2.13 </b></span>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-2918538467298036702013-03-05T04:56:00.000-08:002013-03-20T04:56:13.712-07:00Um grande salto em frente, dois grandes saltos atrás<div class="lead p20">
Se o voto popular se tornou irrelevante para
escolher entre políticas distintas, porque não eleger alguém que ao
menos lance o pânico entre os poderosos que comandam a UE, o BCE e o
FMI? – assim parece ter raciocinado na passada semana o eleitorado
italiano.</div>
<div class="lead p20">
</div>
Quem quer que hoje se esforce por ver
além da espuma dos dias, não só entende que o défice democrático europeu
se foi alargando até originar esta espécie de pós-democracia em que
hoje vivemos, como reconhece que cada vez mais cidadãos já desvendaram
este segredo e se decidiram por agir em conformidade.<br />
<br />Tornou-se também claro para muitos que, na crise da<span>s
dívidas soberanas desencadeada em 2010, o pretexto foi
económico-financeiro, mas o intuito é político. O que a justifica é o
desejo de aproveitar um momento de fragilidade dos povos e dos estados
nacionais para desencadear um muito ansiado ajuste de contas, pondo em
causa tanto o contrato social laboriosamente edificado ao longo de
décadas como os delicados equilíbrios sobre os quais ele assenta.</span><br /><br /><span>A
austeridade fiscal foi imposta a coberto de um pânico irracional
fabricado pelo BCE com pretextos espúrios. Apesar do evidente
descalabro, tanto a UE como o BCE insistem em políticas de extorsão
fiscal que prolongam indefinidamente a estagnação e o desemprego de
longa duração, assim condenando, nas palavras de Martin Wolf, "dezenas
de milhões a um sofrimento desnecessário".</span><br /><br /><span>Os mais
crédulos aceitam que em devido tempo tudo se arranjará, contanto que
cada país se esforce por pôr as suas contas em ordem. Basta-lhes a ténue
promessa de que, após as eleições alemãs deste ano, a Europa avançará
decididamente para a união bancária, a união fiscal e, a prazo, a
mutualização parcial da dívida. Mas convém recordar que este método de
começar a construir a casa pelo telhado, deixando para o fim os seus
alicerces democráticos, é o mesmo que foi adoptado vai para mais de duas
décadas, com os desastrosos resultados que conhecemos. É chegada a
altura de dizermos com clareza que este "federalismo" burocrático
equivale à total subversão do ideal europeu tal como nos foi proposto em
sucessivas ocasiões e que, como tal, deve ser liminarmente recusado.</span><br /><br /><span>É
também este o momento de desmontar a retórica das "reformas
estruturais" que a Comissão Europeia e o BCE se acham no direito de
impor a todo o continente, sem que para isso disponham de qualquer
mandato. Para começar, não se sabe sequer muito bem o que sejam essas
famigeradas "reformas" – uma espécie de fato para marrecos à escala
continental – excepto que se traduzem sempre em pacotes de sevícias sem
propósito evidente além de uma vaga e nunca alcançada melhoria da
"competitividade" (ela própria outra palavra de sentido indeterminado).
Conforme recentemente vincou Wolfgang Munchau, "não existe qualquer elo"
entre "uma vaga ideia de reforma e o sucesso económico, medido pelo PIB
per capita".</span><br /><br /><span>Naturalmente, seria preferível que a
solução política para esta crise emergisse das presentes instituições
europeias. Quaisquer embaraços decorrentes do eventual chumbo pelo
Parlamento Europeu do orçamento comunitário proposto pela Comissão
seriam mais do que compensados pela constatação popular de que, afinal, o
seu voto sempre serve para alguma coisa. Precisamos urgentemente de que
o Parlamento – por excelência, a casa da democracia europeia – se
afirme como um pólo de poder alternativo, e esta seria a hora de ele se
redimir da sua anterior passividade. Falhando – como parece provável –
essa alternativa, restaria a hipótese de o Tribunal Europeu de Justiça
se decidir a travar a continuada subversão das instituições comunitárias
declarando a nulidade de todas as decisões impostas nos últimos anos
pela Alemanha e pela Comissão como contrárias à letra e ao espírito dos
tratados em vigor. Mas é pouco provável que isso aconteça.</span><br /><br /><span>Não
podemos, por isso, pôr de parte a hipótese de se acentuar na União
Europeia a presente deriva de degradação da convivência civilizada entre
os povos e de liquidação definitiva de qualquer conceito de futuro
mobilizador para os seus cidadãos. É por tudo isso que nós, os bons
Europeus –, ou seja, aqueles que concebem a Europa antes de mais como um
projecto de civilização – temos de reconhecer que, a persistir o curso
actual, talvez seja necessário que ao grande salto em frente da criação
da moeda única possam ter de seguir-se dois grandes saltos atrás, ou
seja, não só o desmantelamento dessa moeda única como a anulação de uma
parte das regras do Mercado Único que a precedeu.</span><br /><br /><span>Não
há uma só maneira de os povos europeus conviverem e cooperarem entre si
em razoável harmonia. Nos quase três milénios que leva de existência
como instância geopolítica relevante, a Europa conheceu já múltiplas
configurações, alternando períodos de aproximação entre os estados
constituintes com outros de afastamento. Num horizonte longo, a presente
UE deve ser encarada como apenas um dos arranjos institucionais
possíveis, cuja principal carta de recomendação foi a sua orientação
demo-liberal. Falhando essa inspiração distintiva, não há razão para que
seja considerada preferível a arranjos mais estreitos, no limite pouco
mais que zonas de comércio livre e cooperação política limitada.</span><br /><br /><span>Nós,
os bons Europeus, deveremos por isso prepararmo-nos para reconsiderar
radicalmente a posição de Portugal no contexto da Europa, quem sabe se
começando por dar à expressão "países periféricos" um sentido positivo.
Com tanto país a ser deitado fora da UE como carga imprestável, talvez
se consiga fazer algumas alianças interessantes, deixando a Alemanha
entretida com os seus estados tributários.</span><br />
<span><br /></span>
<span><b>Publicado no Jornal de Negócios em 5.3.13 </b></span>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-79095563548140726492013-02-05T04:48:00.000-08:002013-03-20T04:52:04.681-07:00Como tornar-se um sem-abrigo de sucesso<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: 16px; line-height: 1;">Há meio século, todos
concordavam que o lugar dos loucos é no manicómio. A populaça temia e
hostilizava os "maluquinhos", mas a sociedade achava seu dever cuidar
deles internando-os em instituições para alienados.</span></span><br />
<br />
Embora por essa altura rareassem já os tratamentos mais
violentos, o confinamento de seres humanos para a vida em presídios
especializados era crescentemente contestado, tanto mais que a noção de
distúrbio mental era (e é) algo vaga. Fazia-se, por exemplo, notar que
na União Soviética os opositores eram internados em hospícios sob o
pretexto de que a sua resistência a uma sociedade tão racionalmente
organizada só poderia dever-se a algum tipo de falha psíquica.<br />
<br />
Pensadores
como o americano Szaz, o escocês R. D. Laing ou o francês Foucault
argumentaram que a impropriamente chamada loucura pode ser um mecanismo
perfeitamente racional de ajustamento a um mundo injusto e desumanizado,
oferecendo um potencial de libertação e renovação espiritual. Nessas
circunstâncias, o internamento compulsivo dos loucos torna-se numa forma
de uma maioria de cidadãos conformistas reprimirem impulsos
emancipadores e perpetuarem a tirania do "estado terapêutico".
Estaríamos assim perante um sistema potencialmente totalitário orientado
para a aniquilação de acções, ideias e emoções arbitrariamente
classificadas como impróprias.<br />
<br />
Por tudo isso, o
movimento da "antipsiquiatria" sustentava a eliminação do asilo de
alienados e a libertação e reintegração dos loucos na sociedade civil, a
qual cuidaria de potenciar as suas capacidades criativas. "Voando Sobre
um Ninho de Cucos", o filme realizado por Milos Forman em 1975 e
galardoado com cinco Óscares, ajudou muito a popularizar essas teses.<br />
<br />
A
nova direita não tardou em brandir a bandeira da libertação dos doidos,
não só por constatar que o estado despendia rios de dinheiro na
manutenção de manicómios, como por a horrorizar a violação dos direitos
dos indivíduos aprisionados. Passou a estar em voga a devolução dos
loucos a comunidades de reintegração financiadas pelo estado como
alternativa mais económica para os contribuintes, mas, em 1982, Ronald
Reagan achou que o melhor seria mesmo acabar com esses subsídios, de
modo que os doentes começaram a ser lançados nas ruas, dentro do
princípio de que cada qual sabe o que é melhor para si – e o resto do
mundo aderiu à inovação.<br />
<br />
Essa revolução contribuiu
para aumentar drasticamente o número de sem-abrigo, dos quais parte
considerável manifestamente padece de perturbações psíquicas. Embora
escasseiem estatísticas fiáveis, acredita-se que na Europa e nos EUA os
sem-abrigo se contem hoje por milhões. Quanto à situação portuguesa,
caracteriza-se por um considerável potencial de libertação não
concretizado, arriscando-nos inclusive a ser ultrapassados por economias
do leste europeu mais dinâmicas na produção de sem-abrigo. Necessitamos
urgentemente de uma revolução de mentalidades.<br />
<br />
O
primeiro preconceito a eliminar é a ideia de que o modo de vida dos
sem-abrigo só é indicado para indigentes. Salvo raras excepções, o que
singulariza os sem-abrigo é a fragilidade mental; logo, nada impede que a
fome de liberdade e espiritualidade inerentes a esse modo de vida
atraiam tanto a classe média como gente de posses.<br />
<br />
Atente-se
em Nicolas Berggruen, que, embora dono de uma fortuna avaliada em 2,2
mil milhões de dólares, decidiu em 2002 vender o seu apartamento em
Manhattan e a sua ilha na Florida, mantendo apenas o jacto pessoal
Gulfstream e deslocando-se permanentemente de hotel em hotel. Nas suas
frequentes entrevistas, exorta toda a gente a abraçar o seu projecto de
libertação dos bens materiais e busca espiritual. Tecnicamente, trata-se
sem dúvida de um "homeless".<br />
<br />
Entretanto, a
Sociedade São Vicente de Paulo da Austrália convida desde 2006 os CEO do
país a viverem a experiência dos sem-abrigo num "sleepout" que tem
lugar em Junho de cada ano. O sucesso da iniciativa não decorre, é
óbvio, de esses executivos recearem ver-se um dia, por infortúnio,
despromovidos à condição de sem-abrigo, antes de um desejo reprimido de
ensaiarem uma experiência que lhes tem sido vedada pelos preconceitos
sociais dominantes.<br />
<br />
A constatação do fascínio que a
vida dos sem-abrigo exerce sobre tantos altos executivos coloca às
empresas que eles dirigem um angustioso dilema. Não é ético condicionar a
liberdade de alguém, mais a mais quando está em causa a tentativa de
dar significado espiritual à sua vida. Porém, a dificuldade que os
aspirantes a sem-abrigo têm em assumir a sua vocação pode prejudicar o
seu desempenho enquanto hesitam e, por isso, inibir a criação de valor
para os accionistas. Eventualmente, a neurose (que é só um problema do
próprio) pode evoluir para psicopatia (que ameaça os outros). Que fazer?
<br />
<br />
Em primeiro lugar, é recomendável que os
accionistas e pares do sujeito estejam atentos aos sintomas precoces do
distúrbio, incluindo desinteresse pelas opiniões dos outros, obstinação
extrema, alheamento do senso comum, recusa de rever as suas opiniões e
atitudes, insensibilidade ao sofrimento alheio e incapacidade de pedir
desculpa.<br />
<br />
Confirmada a condição neurótica, deverão
aceitar o facto sem mais delongas, incitar o CEO a seguir a sua vocação e
prepará-lo para a sua nova vida, se necessário ajudando-a a adquirir a
indispensável formação. Acima de tudo, o candidato a sem-abrigo deve
evitar a mediocridade e manter a sua ambição. Desde que convenientemente
treinado e motivado, há todas as condições para que, também na nova
carreira que abraçou, ele venha a revelar-se um homem de sucesso.<br />
<br />
<b>Publicado no Jornal de Negócios em 5.2.13 </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-14303756613654152152013-01-22T04:45:00.000-08:002013-03-20T04:46:35.343-07:00Se os portugueses tivessem um governo próprioSe tivéssemos um governo próprio, eis o que ele poderia dizer à troika na próxima vez que ela nos visitasse:<br />
<br />
"Meus senhores, escutámos nos últimos tempos declarações altamente
relevantes de, por um lado, Christine Lagarde (Directora-geral do FMI) e
Olivier Blanchard (economista principal do FMI), por outro, Durão
Barroso (Presidente da Comissão Europeia), Claude Juncker (Presidente do
Ecofin) e Martin Schulz (Presidente do Parlamento Europeu).<br />
<br />
"Ora vejamos. Christine Lagarde sustentou já em Outubro do ano
passado que os países europeus em dificuldades deveriam ter mais tempo
para reduzir os seus défices: "Foi isso que advoguei para Portugal, foi
isso que advoguei para a Espanha, e é isso que estamos a advogar para a
Grécia". Mais recentemente voltou a insistir na ideia, desta vez apoiada
no estudo assinado por Olivier Blanchard "Growth Forecast Errors and
Fiscal Multipliers", onde se admite que "os multiplicadores fiscais se
revelaram substancialmente maiores" do que os anteriormente estimados.
Assim, reconhece agora o FMI que a subestimação do impacto da
austeridade infligiu consideráveis danos às economias grega, portuguesa,
italiana, espanhola e irlandesa, e que teve como resultado perverso o
aumento dos rácios da dívida em relação ao produto de todos esses
países.<br />
<br />
"Além disso, o próprio Durão Barroso, que ainda em Outubro do ano
passado advogara mais cortes orçamentais nos países do Sul em resposta
às reticências manifestadas pelo FMI, sentiu-se agora na necessidade de
negar publicamente que a União Europeia esteja por detrás das medidas de
austeridade genericamente aplicadas no continente.<br />
<br />
"As declarações mais contundentes vieram, porém, de Claude Juncker,
Presidente cessante do Conselho dos Ministros das Finanças. Começou ele
por contestar a legitimidade democrática de instituições como o BCE e o
FMI para imporem medidas punitivas a certos países ao mesmo tempo que
outros beneficiavam das fugas de capitais da Grécia para o exterior,
concluindo que os ajustamentos "recaíram apenas sobre os mais fracos".<br />
<br />
"Acrescentou que "o drama do desemprego tem sido subestimado" pela
União Europeia e aconselhou ao seu sucessor que "escute todos os
Estados-membros por igual", caso contrário terá muito de que se
arrepender dentro de seis meses. Lamentou os resultados decepcionantes
do último Conselho Europeu, que persiste em tomar decisões insuficientes
e tardias.<br />
<br />
"Concluiu, surpreendentemente, que "todos os países membros devem
fixar um salário mínimo social" e acordar "numa base de direitos sociais
mínimos para os trabalhadores", caso contrário a Europa perderá o apoio
das classes trabalhadoras. Por último, pediu "um acordo sobre os
elementos essenciais da solidariedade" ao nível europeu.<br />
<br />
"Estamos plenamente conscientes de que o Parlamento Europeu não tem
de momento grande peso na definição das políticas europeias. Ainda
assim, é impossível ignorarmos o que o seu Presidente Martin Schulz
disse na sua recente visita a Lisboa: "Austeridade pode ser exercício de
autodestruição sem medidas pró-crescimento."<br />
<br />
"Todas estas individualidades - de quem decerto já terão ouvido falar
- convergem de modo inequívoco na conclusão de que as políticas de
austeridade que têm vindo a ser aplicadas na Europa em geral e em
Portugal em particular são erradas, destrutivas e contrárias aos
propósitos declarados de controlar os défices públicos, conter o
crescimento das dívidas soberanas, promover o crescimento e gerar
emprego.<br />
<br />
"Como compreendem, a opinião pública portuguesa fica confusa ao
escutar estas afirmações dos dirigentes da União Europeia e do FMI, tão
evidentemente opostas àquelas que até há pouco lhe eram apresentadas
como indiscutíveis artigos de fé - e que nós próprios, aliás, aceitámos
assumir perante os nossos concidadãos como inevitáveis e sem
alternativa. Assim sendo, não poderemos estranhar que os portugueses
comecem a perguntar-se se o governo que elegeram não terá andado a
enganá-los no último ano e meio.<br />
<br />
"Ora, se um povo desconfia da boa-fé do seu governo e se sente
atraiçoado por ele, corre-se o maior dos riscos, que é o de uma
irreversível e completa ruptura entre eleitos e eleitores, desembocando
na perda de legitimidade e no caos político.<br />
<br />
"Dito isto, somos forçados a perguntar-vos: quem representam os
senhores nesta reunião? A União Europeia e o FMI ou apenas e só as
vossas peculiaríssimas opiniões pessoais? Como é possível que
representem essas instituições, se é público e notório que as únicas
pessoas inequivocamente autorizadas para falarem em nome delas
contrariam em público de forma clara e taxativa o que os senhores aqui
procuram impor-nos?<br />
<br />
"Têm os senhores a certeza de estarem mandatados para fazerem o que
fazem e dizerem o que dizem? Estão seguros de que a vossa actuação é
apoiada pelas organizações a que pertencem? Não vos incomoda pessoal,
profissional e institucionalmente a ambiguidade desta situação?<br />
<br />
"Não nos levem a mal. Porém, nestas circunstâncias, somos forçados a
suspender todos os contactos convosco até que Christine Lagarde, Durão
Barroso e o novo Presidente do Ecofin clarifiquem de uma vez por todas,
de preferência por escrito, qual é de facto a orientação das
instituições a que presidem. Até lá despedimo-nos de vós com amizade,
esperando que tenham tido uma estada agradável no nosso bonito país."<br />
<br />
<b>Publicado no Jornal de Negócios em 22.1.13 </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-28012611851439030262013-01-08T20:57:00.000-08:002013-01-08T20:57:00.191-08:00O que estamos nós a fazer aqui<span>Durante a maior parte da 2.ª Guerra Mundial, os alemães não
mobilizados para a frente continuaram a levar uma vida normal, pois
nunca faltaram matérias-primas às fábricas ou alimentos às famílias. A
guerra trava-se lá longe, sem afectar o pacato quotidiano dos cidadãos.
Os alemães não sabiam, nem cuidavam de saber, que a sua prosperidade
assentava na pilhagem organizada dos recursos da Europa inteira.</span><br /><br /><span>"Não
saber" o que não lhes convém saber é, como a actual crise europeia veio
recordar-nos, um dos pontos fortes dos alemães. A Europa afunda-se na
recessão duradoura, a pobreza renasce em países onde se tornara
residual, metade dos jovens não encontra trabalho –, mas, na Alemanha, o
Natal foi vivido na paz do Senhor, e isso é tudo o que importa.</span><br /><br /><span>Qualquer
pessoa sensata entende que, um dia, o sofrimento chegará também à
Alemanha. Não, desta vez, sob a forma de bombardeamentos mortíferos, mas
de estagnação e desemprego induzidos pelo empobrecimento dos parceiros
europeus, visto que 60% das exportações germânicas se dirigem à União
Europeia e 40% à Zona Euro. Entretanto, como regularmente faz notar
Wolfgang Munchau (colunista do Financial Times e ele próprio alemão), na
República Federal reina a cegueira absoluta, imune aos avisos que
chegam de todas as partes do mundo sobre a tacanhez da política adoptada
por Angela Merkel.</span><br /><br /><span>O ponto inquestionável é que a
União Europeia mudou de natureza, tornando-se numa coutada da Alemanha, a
qual, mercê da sua dimensão geográfica, populacional, económica e
financeira, se encontra de momento em condições de impor a sua vontade a
todo o continente. Quanto maior o poder de que um país dispõe, mais
necessário será que aja com autocontenção, mas a Alemanha parece
apostada em demonstrar em todas as oportunidades ser um país em que
ninguém pode confiar, dado que não só desrespeita os compromissos que
assume, como infringe sempre que lhe convém as regras da União Europeia.
Toda a gente se recorda como incumpriu o PEC; como ignorou as regras da
concorrência socorrendo a sua indústria automóvel durante a recessão de
2009; como sabotou o funcionamento das instituições europeias; como
condicionou publicamente a actuação do BCE; como se arrogou poderes de
decisão que não lhe competem; como interferiu na política interna dos
outros países membros, chegando ao ponto de fazer e desfazer governos;
como, enfim, recentemente impôs o adiamento dos compromissos assumidos
com os outros países em relação à projectada união bancária.</span><br /><br /><span>O
que tem este novo Sacro Império Germânico que ver com a União Europeia
que nos empenhámos em construir nas últimas décadas? Nada, como é
evidente. Porque haveremos então de continuar a fingir que a União
Europeia continua a existir? Os britânicos serão provavelmente os
primeiros a decidir que não estão dispostos a ser comandados pela
Alemanha, mas é possível que, a prazo, se lhe sigam a Itália, a Espanha
e, por último, a própria França. Com a Alemanha ficarão decerto a
Áustria (consumando por fim o adiado Anschluss) e a Holanda (uma
gigantesca plataforma logística da Renânia-Vestefália). Quanto à
Polónia, com uma longa experiência do que a casa gasta, não tardará a
pôr-se a milhas.</span><br /><br /><span>Por cá reina a ilusória esperança
de que, no intuito de salvar o euro, o bom senso acabará por ditar o
aprofundamento da união, e que isso inevitavelmente implicará uma
espécie de federação democrática. No horizonte dessa esperança
encontram-se a união bancária, a união fiscal e a mutualização parcial
das dívidas (vulgo eurobonds). No fim desse radioso caminho
esperar-nos-ia, finalmente, a desejada união política. Valeria, assim, a
pena sujeitarmo-nos a todas as sevícias concebidas pela troika. Sucede,
porém, que, quando apreciou o Tratado de Lisboa, o Tribunal
Constitucional Alemão recusou liminarmente a perspectiva da diluição da
soberania germânica num futuro estado federal europeu. Nessas
circunstâncias, o federalismo de que tanto se fala poderá ser
burocrático e financeiro; mas jamais político, menos ainda democrático.
Não haverá nele lugar para a consideração dos interesses particulares de
povos como nós.</span><br /><br /><span>De 1910 até quase ao fim do século
XX, Portugal cresceu quase sempre mais do que a Europa e, em particular,
do que a Espanha. Dir-se-ia que, apesar de consideráveis erros
cometidos ao longo de três regimes políticos diversíssimos, soubemos
governar-nos. Foi então que optámos por subcontratar partes cada vez
maiores da nossa política económica à União Europeia – processo coroado
com a adesão ao euro – e o resultado está à vista.</span><br /><br /><span>Por
muito nefasta que nos seja esta circunstância, não está evidentemente
nas nossas mãos tomar agora a iniciativa de sair do euro. Mas um mínimo
de lucidez recomenda que nos questionemos sobre o que estamos nós aqui a
fazer – e que comecemos a ponderar, à luz dos nossos interesses
geoestratégicos, que alianças alternativas deveremos buscar caso se
confirme o presente rumo de desagregação da União Europeia.</span>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-53786121999547410242012-12-18T07:55:00.000-08:002013-01-08T07:58:54.829-08:00Ai aguenta, aguenta"Ninguém gosta de tomar decisões que provocam sofrimento noutras
pessoas". Há evidentemente pessoas (talvez poucas) que gostam de
provocar sofrimento noutras: logo, a análise lógica desta declaração
conclui pela sua evidente falsidade.<br />
<br />
No entanto, ela parece-nos psicologicamente verdadeira, porque
verosímil: todos nós causámos já conscientemente dor a outrem no intuito
de evitar um mal maior, por exemplo, castigando um filho para o ajudar a
enfrentar os perigos da vida.<br />
<br />
Falta porém explicar porque é que, em certas circunstâncias, tanta
gente aparentemente normal se presta de boa mente a colaborar em
processos que infligem sofrimento extremo a milhões de seres humanos sem
sequer tentar resistir a algo que contraria frontalmente os valores que
aparentemente professa.<br />
<br />
Impressionado com a tese da "banalidade do mal", formulada por Hannah
Arendt após assistir ao julgamento de Adolf Eichmann, o oficial SS que
superintendeu toda a organização e implementação da chamada Solução
Final, Stanley Milgram, à data Professor de Psicologia Social em Yale,
decidiu investigar o assunto.<br />
<br />
A experiência concebida em 1961 por Milgram consistia aparentemente
num teste de memorização. Nela participavam um Experimentador, um
Professor e um Aluno. O Professor recebia uma lista de pares de palavras
que deveria ensinar ao Aluno. Depois de recitar a lista completa, o
Professor leria ao Aluno a primeira palavra de cada par e pedia-lhe para
escolher a segunda dentre quatro possíveis. Se a resposta fosse
incorrecta, o Professor carregaria num botão que aplicaria ao Aluno um
choque eléctrico, que aumentaria 15 volts por cada erro. Se fosse
correcta, passaria à questão seguinte.<br />
<br />
Embora o Professor - o verdadeiro sujeito da experiência - o
ignorasse, o Aluno era na verdade um actor que, fechado numa sala ao
lado, simulava sofrer os alegados choques eléctricos. Os gritos de dor
do Aluno aumentavam de intensidade à medida que a voltagem "aumentava". A
partir de certa altura, o Aluno queixava-se de problemas cardíacos e
deixava de reagir. Atingidos os 135 volts, muitas pessoas questionavam a
experiência e declaravam a sua intenção de abandoná-la, mas a maioria
continuava depois de lhe ser assegurado que os choques não provocariam
danos irreversíveis no Aluno. Quando o Professor insistia em abandonar, o
Experimentador procurava dissuadi-lo, dizendo-lhe, por esta ordem:<br />
<br />
1. Por favor, continue.<br />
<br />
2. A experiência exige que continue.<br />
<br />
3. É absolutamente essencial que continue.<br />
<br />
4. Não há alternativa, tem de continuar.<br />
<br />
Se o Professor assentisse, a experiência continuaria até ao choque
máximo de 450 volts. Antes de iniciar as suas experiências, Milgram
perguntou a um painel de especialistas que percentagem de Professores
iria até ao enfim. A previsão apontava para 1,2%. Porém, 65% dos
sujeitos aplicaram na primeira experiência o hipotético castigo de 450
volts, apesar de quase todos revelarem sinais de perturbação e tensão
extremas, incluindo riso nervoso, suores e tremores. A experiência de
Milgram foi desde então repetida inúmeras vezes ao longo de décadas, sem
alteração notável dos resultados. Uma meta-análise publicada em 2002
por Thomas Blass, da Universidade de Maryland, concluiu que a proporção
de participantes preparados para infligir a punição extrema se situa
usualmente entre 61 e 66%, independentemente do tempo e do lugar.<br />
<br />
Milgram resumiu assim as conclusões da experiência: "Pessoas normais,
que se limitam a fazer o seu trabalho, podem tornar-se agentes de um
processo terrivelmente destrutivo apesar de não serem movidas por
qualquer hostilidade particular. Mesmo quando os efeitos destrutivos da
sua acção se tornam evidentes e lhes é pedido que levem a cabo algo
incompatível com padrões éticos fundamentais, pouca gente tem energia
para resistir à autoridade."<br />
<br />
O mais perturbador é que ninguém o faz por mal. Muita gente parece
achar legítimo cometer as piores barbaridades na condição de que elas
sejam legitimadas por uma autoridade estribada num suposto bem comum,
numa linha de rumo que não se sabe bem quem traçou, de preferência
sustentada pelo conhecimento científico ou, pelo menos, pela força
objectiva das coisas. A diluição da responsabilidade individual
desempenha aqui um papel fundamental, dado que a violência não parece
resultar da vontade individual dos agentes do castigo, mas da
inevitabilidade da situação ("a experiência exige que continue", "não há
alternativa").<br />
<br />
Fomos amestrados para acreditar que, quando os especialistas nos
dizem que algo é inevitável, devemos acreditar nisso cegamente, mesmo
que (ou sobretudo quando) tenhamos as maiores dúvidas. O Aluno existe
para ser castigado pelo Professor sob a superior orientação do
Experimentador. Mais claro que isto, é impossível.<br />
<br />
P.S.: O leitor interessado em aprofundar o assunto poderá visionar no
YouTube o programa em três partes "Milgram's Obedience to Authority
Experiment", produzido pela BBC em 2009. Complementarmente, recomendo a
conferência TED de Philip Zimbardo "The Psychology of Evil", de 2008João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-86128884298131502932012-12-04T07:54:00.000-08:002013-01-08T07:54:38.873-08:00O sr. Nelinho ao poderO Sr. Nelinho entrou inesperadamente na vida do meu amigo Francisco
quando ele se decidiu a adquirir uma casa espaçosa, mas algo antiga, no
intuito de a recuperar, introduzindo-lhe de passagem múltiplos
melhoramentos. Chegou-lhe o empreiteiro muito recomendado como pessoa
despachada e empreendedora, sempre com a cabeça a fervilhar de ideias
práticas e acolitado por um punhado de aplicados ajudantes.<br />
<br /><span>O Sr. Nelinho compareceu no dia acordado – não exactamente à
hora, mas já se sabe como essas coisas são – acompanhado do minúsculo
Sr. Batata, este último munido de um bloco de apontamentos que não parou
de aplicadamente rabiscar com o lápis que volta e meia sacava detrás da
orelha. Após os algo bruscos cumprimentos da praxe, percorreu em passo
rápido a casa, mirando tudo de cima abaixo com aquele olhar entre o
atento e o distraído que só o verdadeiro perito sabe aplicar ao objecto
da sua observação. O meu amigo tentava ir à frente, explicando o que
pretendia, mas o Sr. Nelinho impôs-lhe o percurso e o ritmo da
inspecção, sem parecer interessar-se demasiado pelo que ouvia, como se
fosse supérfluo o que lhe pudessem acrescentar. "Parece que apanha tudo
no ar…", maravilhou-se o Francisco.</span><br /><br /><span>"Pois, sim
senhor, temos aqui uma bela obra." "E vai ficar muito cara?" "Aqui o
Batata, que é bom em contas, tomou nota de tudo e amanhã tem cá o
relatóriozinho." Fugidia bacalhauzada de despedida e já Nelinho e Batata
se enfiavam sem mais conversas numa carrinha carregada de tralha e
seguiam à sua vida pela rua fora.</span><br /><br /><span>O orçamento nem
pareceu caro para tanta tarefa. "Somos um grupo pequenino, mas muito
unido e desenrascado." "Quando começam?" "Isso, agora, deixa cá ver…."
Tardaram mais de duas semanas, mas, quando apareceram, derramaram por
toda a parte uma profusão de materiais, tábuas, varões, ferramentas,
baldes de tinta e caixotes de papelão de todos os tamanhos e feitios.
Aquilo ficou de imediato em estado de sítio e as tropas de ocupação
lançaram sem mais demoras mãos à obra. Ao regressar nesse dia do
trabalho, o Francisco espantou-se com a dispersão de esforços: "Não
seria melhor fazer isto por partes?" "Nós fazemos assim. É o nosso
método", foi a resposta.</span><br /><br /><span>Prontamente se constatou
que o "método" do Sr. Nelinho era incompatível com o dia-a-dia de uma
família organizada. A mulher-a-dias não conseguia lavar a roupa e passar
a ferro no meio daquela confusão. Tornou-se impossível cozinhar no meio
do caos. A mesa da sala de jantar estava sempre coberta de pincéis e
esmaltes. Nas banheiras havia baldes de cola e tábuas partidas. Circular
nos quartos de dormir era um exercício perigoso, principalmente à
noite. Pior que tudo, os miúdos não conseguiam, no meio de tanta
barulheira e desarrumação, fazer os trabalhos de casa.</span><br /><br /><span>"As
crianças vão ter de emigrar, vai ter de ser", sentenciou sem se comover
o Sr. Nelinho. "Emigrar, como?", fez o Francisco, que começava a
sentir-se vagamente ameaçado. "Vão para casa de uns avós ou de uns tios.
Há que ter paciência." Os miúdos lá abalaram, a breve trecho seguidos
pela mãe, que concluiu não estar ali a fazer nada. Quanto ao Francisco,
lá ia resistindo, embora cada vez mais confuso, porque via passar os
dias, muita agitação na casa, muito camartelo, muita demolição, muito
fio eléctrico arrancado, muito soalho esventrado e muita parede
descascada, mas pouco ou nenhum progresso real do trabalho.</span><br /><br /><span>Cada
vez que interpelava directamente o Sr. Nelinho, não tinha direito a
mais que um sorriso trocista e um comentário enigmático: "Não se
apoquente, porque eu, o Batata e os meus ajudantes sabemos muito bem o
que estamos a fazer…" O pior foi quando, dias depois, o Nelinho lhe
comunicou, com ar de quem não admite discussões, que, estando a casa em
muito pior condição do que lhe havia sido transmitido, tornava-se
indispensável rever urgentemente o memorando e aumentar substancialmente
o orçamento. "O memorando? Qual memorando?" "Ora essa, o relatório do
Batata que o senhor aprovou e assinou, não se faça de esquecido!" "E
porque é que a obra há-de ficar mais cara, não me diz?" "O edifício não
presta, não se pode fazer nada de jeito com ele. Há um problema de
fundações. Vai ser preciso demolir a trave mestra e, isso, meu caro
amigo, é quase como fazer um edifício novo."</span><br /><br /><span>O
Francisco ficou de todas as cores. Sem se comover, o Nelinho continuou,
perante o assentimento do Batata e dos restantes paspalhos que o haviam
rodeado: "Até já trouxe hoje comigo o meu advogado, o Dr. Faísca, para
fazermos um contrato à séria a ver se pomos ordem nesta enrascada em que
o Sr. Engenheiro nos meteu". Com a irritação, o Francisco ainda nem
dera pela presença do advogado. Fora de si, fulminou-o: "Fora, fora
daqui de uma vez por todas! Fora com o Batata, fora com o Faísca e todas
as vossas cambulhadas." O Nelinho tentou responder-lhe – "não perca a
cabeça, que a mulher aqui do Coradinho é polícia e isto ainda pode
acabar mal!" –, mas o Francisco estava definitivamente decidido a
expulsar aquela tropa fandanga e, com energia sobre-humana, empurrou-a
sem cerimónia porta fora. </span><br /><br /><span> "E agora?",
perguntei-lhe quando o encontrei dias depois. "Agora, tenho uma dívida
gigantesca ao banco, a casa está numa ruína (mil vezes pior do que
quando a comprei), ninguém pode viver lá, os miúdos continuam com os
avós e a Leonor ameaçou-me com o divórcio. Em compensação, estou livre."</span><br /><br /><span>"Mas,
afinal, quem é que te recomendou o Nelinho?" "Foi o Ângelo, sabes quem
é?" "O amigo do Ilídio? E ele meteu-te em casa esse animal?" "Se eu
tivesse sabido…, mas só agora descobri que o Nelinho é afilhado do
Ilídio!"</span>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-78915142084851201052012-11-20T07:51:00.000-08:002013-01-08T07:52:52.293-08:00Lindos serviçosCitadinos que jamais põem os pés no campo projectam na agricultura
imagens bucólicas de alegres passarinhos, prados verdejantes e abençoada
comunhão com a mãe natureza. Já a indústria, compensa a intrínseca
falta de poesia com prosaicos valores de disciplina, método, diligência e
trabalho esforçado.<br /><br />Em comparação, pouco de bom parecem evocar
as actividades de serviços. Serviço conota servidão, servilismo,
sujeição – tudo traços negativos numa era que tanto preza a autonomia
individual. Não admira, por isso, que a marcha triunfal da economia dos
serviços desencadeie reacções de desconforto perante o rumo que o
ocidente está a tomar.<br /><br />O alarme cresce ainda mais quando as
pessoas tomam consciência de que os serviços não só ocupam hoje para
cima de 70% dos trabalhadores activos nas economias mais desenvolvidas
(cerca de 80% nos EUA, no <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/Reino_Unido">Reino Unido</a>,
na França, na Alemanha e na Holanda) como quase todo o novo emprego
líquido é criado por eles. Os serviços são considerados pela opinião
dominante culpados de infindáveis malfeitorias: não criam valor, inibem o
crescimento da produtividade, pagam baixos salários, contribuem pouco
para as exportações. Ora, essas percepções assentam em parte ou na
totalidade em equívocos.<br /><br />Durante muito tempo, os serviços foram
encarados como uma categoria residual da economia, ou seja, como tudo
aquilo que não era agricultura ou indústria. Até ao princípio do século
XX, abrangiam principalmente criados domésticos e trabalhadores do
comércio, mas a realidade é hoje muito distinta.<br /><br />Para começar,
uma boa parte das pessoas que oficialmente trabalham na indústria não
fabrica coisas: ocupa-se, por exemplo, na investigação e desenvolvimento
de novos produtos, na sua comercialização e distribuição, na gestão dos
recursos humanos e na gestão financeira. Isso significa que a
tradicional repartição da economia em sectores primário, secundário e
terciário subestima largamente a contribuição dos serviços para o
emprego e o valor acrescentado das economias contemporâneas.<br /><br />Veja-se o caso da <a class="enlace_noticia" href="http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=FICHA_ACCAO_V2&isin=ES0148396015&plaza=55&calidad=df&indice=ibex35&nom=Inditex" target="_blank">Inditex</a>,
o maior grupo mundial de moda, baseado na Galiza e detentor de marcas
como Zara, Zara Home, Massimo Dutti, Pull & Bear e Uterque. A força
do grupo reside numa combinação de design imitativo das últimas
tendências da moda e gestão eficiente e ágil de cadeias logísticas de
produção e distribuição integradas à escala global. A sua competência
singular consiste na selecção, gestão e controlo de uma rede de
fornecedores espalhados pelo mundo em estreita articulação com a
dinâmica de pontos de venda localizados nos mercados mais promissores. A
sua força reside nas actividades de serviço, não nas de produção, que
são triviais.<br /><br />Note-se, por outro lado, a estrutura de custos do <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/iPhone">iPhone</a>.
Os componentes que integra importam em 200 dólares e o custo total de
montagem na China queda-se pelos 20 dólares por unidade. Todavia, o
preço de venda ao público chega aos 700 dólares. A diferença entre
custos de produção e preço final remunera no essencial o trabalho de
concepção, software, design e marketing do produto. Como se vê, todas
essas actividades de serviço são tributárias e complementares da
indústria, não alternativas a ela.<br /><br />Uma boa parte do crescimento
do terciário consiste simplesmente na externalização de actividades que
passam a ser adquiridas fora em vez de executadas dentro de casa. A
crescente divisão do trabalho estimula desse modo o surgimento de
empresas especializadas na prestação de serviços às empresas
industriais. É assim que têm crescido os serviços financeiros, a
advocacia de negócios, os serviços informáticos, a consultoria, a
contabilidade, a auditoria, o design, a arquitectura e a publicidade,
entre outros. <br /><br />O angustiado apelo à reindustrialização que hoje
escutamos decorre de um deficiente entendimento do que são e como
funcionam as economias contemporâneas. O sector terciário não é uma
alternativa ao secundário nem implica a sua extinção, antes ajuda a
torná-lo mais sólido. Os serviços fortalecem a indústria qualificando a
força de trabalho, cuidando da sua saúde, facilitando as comunicações e
movimentando mercadorias, mas também ajudando-a directamente a tornar-se
mais produtiva e a solidificar factores de diferenciação competitiva
assentes, por exemplo, na inovação, no design e no marketing.<br /><br />Precisamos
urgentemente de melhor indústria, não necessariamente de mais
indústria. Por isso, a nossa preocupação deveria antes centrar-se em
fomentar o surgimento e consolidação tanto de indústrias como de
serviços de alto valor acrescentado e alta tecnologia e em promover
sinergias entre ambos. Tudo o resto não passa de crença supersticiosa na
superioridade intrínseca das coisas e da sua manipulação sobre as
ideias e o poder do espírito.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-82666265068136342552012-10-30T07:09:00.000-07:002012-10-30T07:20:29.609-07:00Tudo o que sempre quis saber sobre as contas públicas mas teve vergonha de perguntar<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">1. Para começar, 47% da chamada
despesa pública de 2011 consistiu em transferências, ou seja, redistribuição de
recursos que o estado opera de uns cidadãos para outros, incluindo pensões e
outras prestações sociais. Não é pois verdade que o estado se aproprie de
metade da riqueza do país, visto que metade dessa metade é devolvida às
famílias.</span><br />
<br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:18.0pt;
font-family:"Batang","serif";
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-language:EN-US;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">2. As despesas de funcionamento
das administrações públicas (salários mais consumos intermediários) representam
39% dos gastos totais. Porém, como abrangem a produção de serviços como a
saúde, a educação ou a segurança, a verdade é que o custo da máquina
burocrática do estado central se fica pelos 12 mil milhões (15,5% da despesa
pública ou 7,2% do PIB). As gorduras do estado são afinal diminutas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">3. Os juros da dívida pública
deverão absorver no próximo ano 5% do PIB. É imenso, mas em 1991 chegaram aos
8,5%.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">4. O estado português foi
recentemente obrigado a corrigir as suas contas incluindo nelas défices ocultos
em anos anteriores, o que teve como consequência um aumento brusco da
estimativa da dívida pública acumulada. O curioso é que essa dívida escondida
foi praticamente toda contraída até 1989. Logo, as revisões recentes emendam
falhas cometidas há muitíssimos anos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">5. A despesa pública em proporção
do PIB atingiu um máximo em 1993 (46%), depois desceu ligeiramente e só voltou
a esse nível, superando-o inclusive, na sequência da crise financeira mundial
declarada em 2008. O país sabe conter eficazmente despesa pública, tanto mais
que já o fez no passado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">6. O défice das contas públicas
atingiu o seu máximo absoluto, segundo o Banco de Portugal, em 1981 – um legado
de Cavaco Silva ao segundo governo da Aliança Democrática. Nunca mais se viu
nada assim.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">7. Em 1986, o sector público
absorvia 71,7% do crédito total à economia. Em pouco mais de uma década a
situação inverteu-se totalmente, de modo que, em 1999, as empresas e as famílias
já absorviam 98% do crédito disponível. A economia não está hoje abafada pelo
estado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">8. À data da entrada na CEE, o
financiamento externo da economia representava apenas 14% do total. Em
resultado da privatização da banca, a captação de recursos financeiros no
exterior decuplicou entre 1989 e 1999 e a dívida pública passou a ser
financiada esmagadoramente pelo estrangeiro. As instituições financeiras contribuíram
para uma entrada líquida de fundos externos equivalente a 6,8% do PIB nesses
anos. As responsabilidades dos bancos face ao estrangeiro passaram de 49% do
PIB em 1999 para um máximo de 96% em 2007.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">9. A baixa das taxas de juro
decorrente da integração no euro propiciou a rápida expansão do crédito. Mas o
investimento baixou em sete dos onze anos que terminaram em 2010 (variação
acumulada de -20%), ao passo que o consumo privado só desceu num ano (variação
acumulada de +19%). Quando havia dinheiro a rodos, o sector privado não
investiu. Convém investigar porquê.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">10. Também o investimento público
foi baixando progressivamente até aos 3% do PIB em 2008. Em 2009 subiu um
pouco, ficando ainda assim abaixo dos máximos do início da década. Como é
possível continuar-se a invocar o excesso de investimento público para explicar
as presentes dificuldades financeiras do estado?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">11. As despesas do estado com
pessoal caíram consistentemente em proporção do PIB a partir de 2002. O tão
polémico aumento dos salários dos funcionários públicos em 2009 teve um impacto
insignificante nas contas públicas. Em contrapartida, as prestações sociais
passaram de 14% para 22% do PIB entre 2003 e 2010, sendo responsáveis por 95%
do aumento da despesa corrente primária do estado entre 1999 e 2010.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">12. Desmentindo a ideia de que as
metas acordadas com a União Europeia nunca se cumpriram, os objectivos dos PECs
entre 2006 e 2008 foram sempre confortavelmente atingidos, sem recurso a
receitas extraordinárias, no que respeita a receitas, despesas, défice e dívida
pública.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">13. As medidas selectivas de
combate à recessão em 2009 ascenderam a apenas 1,3% do PIB (quase metade pagos
com fundos comunitários). O grande aumento do défice nesse ano deveu-se no
essencial à quebra em 14% das receitas fiscais e ao crescimento das prestações
em decorrência do agravamento da situação social. Acresce que esse aumento não
se desviou significativamente do observado no resto da UE.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">14. Cada um dos pontos anteriores
contraria directa e taxativamente uma ou mais alegações quotidianamente escutadas
nas televisões, nas rádios, nos jornais e, por decorrência, nos cafés e nos
transportes públicos. Uma opinião pública inquinada por falsidades ou meias
verdades não está em condições de formar um juízo válido sobre as alternativas
políticas que lhe são propostas. Nestas condições, não admira que cresça descontroladamente
o populismo e se degrade a qualidade da democracia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(Os factos e números citado neste
artigo foram extraídos do recentemente editado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sem Crescimento Não Há Consolidação Orçamental: Finanças Públicas,
Crise e Programa de Ajustamento</i>, de Emanuel Santos, leitura indispensável
para quem deseje documentar-se sobre o tema das contas públicas.)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Publicado no Jornal de Negócios em 23.10.12 </b></span></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-16632432940257081332012-10-09T07:05:00.000-07:002012-10-30T07:18:42.533-07:00Genuflexão ou resistência<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">1. “Arrependa-se dos seus pecados
e reze dez Ave-Marias e cinco Padre-Nossos.” “Mas, senhor Padre, eu quero ir a
Fátima a pé e dar vinte voltas de joelhos à Capela das Aparições…” É isto o que
significa ir além da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">troika</i>.</span><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:18.0pt;
font-family:"Batang","serif";
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-language:EN-US;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">2. “Não insultar os credores” foi
a absurda orientação escolhida para lidar com a nossa crise financeira, suscitando
a legítima suspeita de que o tão elogiado bom aluno não passa, afinal, de um
manteigueiro carreirista empenhado em vender-nos o ponto de vista alemão.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">3. Sabemos que muitas das ideias
mais penalizadoras incluídas no Memorando de Entendimento foram directamente
sugeridas à <i style="mso-bidi-font-style: normal;">troika</i> por Eduardo
Catroga (“a negociação foi sobretudo conduzida pelo maior partido da oposição”,
afirmou ele em 3 de Maio de 2011). Considerando-se o ulterior percurso
profissional do negociador, torna-se evidente o método subjacente a esta
loucura. Quem está, afinal de que lado?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">4. Salta aos olhos do mais
distraído a existência de um conflito de interesses quando Portugal é
representado nas negociações com a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">troika</i>
por um Ministro das Finanças que é também alto funcionário da Comissão Europeia.
Resulta daí um confronto tão renhido como um desafio entre o Benfica A e o
Benfica B. Uma situação em que Governo e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">troika</i>
se comportam como duas faces do mesmo euro revela por si só todo um projecto de
subserviência que a ninguém deveria passar despercebido. Repito: quem está de
que lado?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">5. Nem Zapatero nem Rajoy se
apressaram a pedir o resgate da Espanha. Ao contrário de Portugal, onde a
embaixada estrangeira foi acolhida com foguetório e alcatifa vermelha, as
oposições, os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">media</i> e os homens de
negócios espanhóis não exigiram em coro a aplicação de duras penas ao seu
próprio povo. Com isso, o país criou margem de manobra negocial neste difícil
transe. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">6. É evidente o tratamento de
excepção que a Espanha tem recebido nesta crise. Vinte e quatro horas depois de
conhecido o pacote de socorro à banca espanhola, já a Irlanda exigia um
semelhante, posição em que foi depois imitada pela Grécia. Já o governo
português permaneceu e permanece calado. Não admira que o mesmo Draghi que
apenas condiciona a compra de dívida espanhola ao pedido formal de ajuda tenha
tido a ousadia de declarar há dias que Portugal só beneficiará do apoio do BCE
quando regressar aos mercados – ou seja, quando já não precisar dele.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">7. Apesar de a medida ser
taxativamente prevista no respectivo Memorando de Entendimento, a República da
Irlanda não só se recusou a privatizar o seu sector eléctrico como nem sequer
separou a produção da distribuição. Estranhou-se muito por lá a pressa com que
em Portugal se despachou a EDP e a REN. É o que sucede quando governo e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">troika</i> não estão do mesmo lado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">8. Quando, em Outubro de 2011, o
nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros foi interrogado sobre o sentido do
voto português no Conselho de Segurança da ONU sobre a possível admissão da Palestina
na UNESCO, retorquiu que concertaríamos a nossa posição com os aliados
europeus. Colocada a mesma questão ao seu homólogo alemão, a resposta foi pronta:
“A Alemanha votará contra”. A nossa margem negocial é escassa, mas existe – só
que não há vontade de utilizá-la.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">9. A participação nas missões da
NATO no Afeganistão e na Bósnia custa ao país uns 75 milhões por ano, o
equivalente a mais de dois meses de gastos com o tão fustigado Rendimento
Social de Inserção. Mais do que para poupar recursos escassos, a retirada
serviria para mostrar aos nossos aliados o desagrado português pela forma como
por eles estamos a ser tratados.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">10. Não satisfeito com
desvalorizar a importância das euro-obrigações, o nosso Primeiro-Ministro
chegou a fantasiar em Junho que a compra de dívida pública dos países em
dificuldades pelo BCE poderia conduzir a uma guerra na Europa. A sua ausência
do encontro que em 21 de Setembro juntou os líderes de Itália, Espanha, Irlanda
e Grécia era expectável: toda e qualquer iniciativa que vise reduzir a pressão
externa sobre o país merece o desdém do governo português, decerto por embaraçar
a hercúlea tarefa de empobrecimento colectivo a que meteu ombros. Não é <i style="mso-bidi-font-style: normal;">underacting</i>, é mesmo má vontade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">11. Na política, na guerra, na
economia ou na gestão a táctica (as famosas medidas) decorre da estratégia. A
margem de manobra é pois escassíssima quando nos limitamos a discutir programas
de acção alternativos sem questionar a política de fundo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">12. Prisioneiro do euro e sem
condições para o abandonar, pressionado por poderes externos que o esmagam,
impedido de recorrer às políticas económicas mais apropriadas, Portugal
encontra-se numa situação dificílima. Não podendo de momento ganhar, deve
esforçar-se por controlar os danos, preservar as forças e esperar o momento
oportuno para contra-atacar. Chama-se a isso defensiva estratégica.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">13. Negociação exige, primeiro,
vontade de afirmar uma posição própria (aquilo, afinal, de que o governo desde
o início abdicou). Segundo, perceber o que é possível conseguir sem jamais
perder de vista o que se quer. Terceiro, fazer saber o que jamais se aceitará,
invocando se necessário os poderes que não se controla (a Constituição e a rua
são excelentes argumentos). Quarto, recorrer a todas as jogadas laterais
susceptíveis de reforçarem a sua posição, incluindo buscar novos aliados, fazer
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">bluff</i> ou alargar o terreno de
confronto.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">14. A estratégia até aqui seguida
pelo governo português é inteiramente consistente com o propósito de operar uma
alteração radical da relação de forças políticas e sociais no país. Assim,
quando nos perguntam por alternativas, devemos começar por questionar o
objectivo e a estratégia, e só depois atentar nas medidas que a sua
reformulação implica.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Publicado no Jornal de Negócios em 9.10.12 </b></span></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-77003188730457231182012-09-25T07:11:00.000-07:002012-10-30T07:18:52.399-07:00Amolece, apodrece e cai<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Concordo
com Vítor Bento quando ele afirma que, embora os portugueses declarem querer o
euro, não é seguro que queiram fazer o que é preciso para que possamos
permanecer nele. Mas acrescentarei que, se de facto entendessem plenamente as
implicações dessa escolha, prontamente reveriam a sua opinião.</span><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin-top:0cm;
mso-para-margin-right:0cm;
mso-para-margin-bottom:10.0pt;
mso-para-margin-left:0cm;
line-height:115%;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:11.0pt;
font-family:"Calibri","sans-serif";
mso-ascii-font-family:Calibri;
mso-ascii-theme-font:minor-latin;
mso-hansi-font-family:Calibri;
mso-hansi-theme-font:minor-latin;
mso-bidi-font-family:"Times New Roman";
mso-bidi-theme-font:minor-bidi;
mso-fareast-language:EN-US;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O
euro incorpora um programa político-económico que raramente foi explicitado,
muito menos apresentado com clareza aos cidadãos e submetido ao sufrágio
popular. O seu propósito declarado inicial foi a estabilização do Mercado Único
através da eliminação das perturbações decorrentes de desvalorizações das
moedas nacionais. Para vender a ideia aos povos, as elites políticas europeias
anunciaram que daí resultariam simultaneamente maior eficiência global e
reforço da convergência entre países.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sabemos
hoje ser equivocada a crença fundadora da zona euro, segundo a qual
desmontando-se uma a uma as instituições supostamente disfuncionais vigentes em
certos estados membros, o mercado libertado encarregar-se-ia de assegurar a
felicidade universal. A convergência abrandou, depois estancou e ameaça agora
inverter-se em cada vez mais países, nos quais sucessivas doses de austeridade
sem fim à vista se combinam com a paralisia do sistema financeiro para
eliminarem de um golpe décadas de progresso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Azar?
Não exactamente. Ao abraçar o projecto da moda única, a União Europeia
afastou-se radicalmente do método de tentativa e erro até então prevalecente
para abraçar uma utopia monetarista sem regresso nem meio-termo. Não por acaso,
o regime que hoje temos na Europa assemelha-se muito ao projecto concebido por
Hayek para eliminar de raiz a possibilidade de os mecanismos democráticos
interferirem no livre funcionamento dos mercados.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Hayek,
o principal inspirador do liberalismo extremista contemporâneo, concebeu uma
solução ideal consistente em criar um poder supranacional não eleito que
chamaria a si a definição dos direitos económicos e sociais (ou ausência deles)
e das políticas macroeconómicas essenciais, deixando apenas ao nível inferior
dependente do voto a responsabilidade de cobrar impostos e decidir sobre a
redistribuição do rendimento. Neste sistema, que hoje impera na União Europeia,
o jogo democrático torna-se uma mera formalidade sem consequências e os
governos nacionais surgem cada vez mais aos olhos de todos como meros títeres
de poderes distantes e inamovíveis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Percebe-se
assim melhor que, imunes à convicção generalizada de que a raiz dos nossos actuais
males se encontra na desregulação do sistema financeiro, os seus agentes logrem
reforçar ainda mais o seu poder sob a tutela do Banco Central Europeu. A impropriamente
chamada ajuda aos países da periferia pode, por exemplo, ser lida sem excessivo
maquiavelismo como, antes e acima de tudo, um socorro disfarçado aos bancos do
centro durante anos envolvidos em investimentos especulativos em dívida pública
que corriam agora o risco de não conseguir cobrar.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Quem
entre nós exigiu nos últimos anos a mudança de regime pode regozijar-se: ele de
facto já mudou, pois que, a par da Constituição oficial da República há hoje
uma constituição não-escrita que, na prática, tutela a comunidade e governa os
seus destinos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Tal
circunstância decorre de um dogma paralelo do liberalismo doutrinário segundo o
qual existe um conjunto de instituições ideais que todos os países que anseiam
pela prosperidade devem adoptar, uma espécie de fato para marrecos que também
nós teremos que envergar. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Nada disto é validado pela experiência empírica: cada
país desenvolveu através de um longo processo o enquadramento institucional
mais apropriado às suas circunstâncias, pelo que não temos que imitar os tiques
e os pesadelos da Alemanha para progredir.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sucede
que esta concepção pluralista é hoje <i style="mso-bidi-font-style: normal;">verbotten</i>.
Espera-se de nós nada menos que a demolição dos direitos sociais, a
desorganização dos fóruns de concertação social, o desmantelamento de instituições
e empresas essenciais à preservação de um mínimo de soberania, o esvaziamento
dos parlamentos e o recuo do poder local. Em suma, aplica-se à democracia o mesmo
tratamento que a uma verruga que, após aplicação de uma agressiva mezinha,
amolece, apodrece e cai. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O
que nos espera no final desta crise financeira? A salvífica união fiscal que
agora se anuncia apenas acentua a deriva plutocrática que estamos a viver. Esta
desgraça não é defeito, é feitio: temo-nos até agora limitado a seguir mansamente
o guião escrito por anónima mão invisível. Urge decifrá-lo e rejeitá-lo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Publicado no Jornal de Negócios em 25.9.12</b></span></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-14850782598993321122012-09-11T07:13:00.000-07:002012-10-30T07:19:02.068-07:00O governo que doou o seu povo à ciência<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ouve-se perguntar há décadas que
sentido faz ser a Constituição portuguesa tão longa, complexa e miudinha? Os
últimos tempos ajudaram-me a perceber porquê. Passo a explicar.</span><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:18.0pt;
font-family:"Batang","serif";
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-language:EN-US;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Na última sexta-feira ficámos a
saber que a contribuição dos trabalhadores para a segurança social aumentará no
próximo ano 7 pontos percentuais ao mesmo tempo que a das empresas baixará 5,75.
Note-se que é pequeno o impacto desta decisão sobre o défice orçamental: estamos
a falar de uns 500 milhões de euros quando as metas acordadas exigem no mínimo dos
mínimos uma redução de 3 mil milhões.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Significa isso que, depois de ter
virado contra si o grosso da opinião pública que ainda confiava nele, o governo
ainda não enfrentou sequer o essencial do problema. O que virá a seguir?
Decerto, nova revisão dos escalões do IRS, despedimentos na parte mais
vulnerável da função pública, reduções drásticas da quantidade e qualidade dos
serviços de saúde, educação e transportes, agravamento de taxas diversas
(incluindo as do SNS) e o mais que adiante se verá.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Se as medidas anunciadas não
reduzem o défice de 2012 e só marginalmente o fazem em 2013, como se explica
então o desvario? Dir-se-ia que o défice e o endividamento são hoje o que menos
importa. A única coisa que agora conta é a aplicação a todo o custo da receita
mágica das reformas estruturais. Mesmo aqui, porém, o foco foi consideravelmente
restringido, visto que das reformas da justiça ou do poder autárquico, por
exemplo, já ninguém parece querer saber.<br />
<br />
As reformas de que o país consensualmente necessita são, pois, no discurso e na
prática, substituídas por contra-reformas inspiradas pelo revanchismo social, impondo-se
uma modalidade de capitalismo extractivo que, por lei, transfere rendimentos
dos trabalhadores para os empresários. A acção governativa orienta-se crescentemente
apenas e só pelo intuito de precarizar as relações laborais e contrair os
custos salariais, na crença (ou sob o pretexto) de que daí resultará um
economia mais sólida e competitiva.<br />
<br />
Este extremismo ideológico – que, obviamente, ninguém sufragou – é o aliado
natural da pulsão neurótico-depressiva de que a troika se alimenta. Afigura-se
portanto plausível que o governo tenha conseguido a indulgência em relação ao
fracasso do défice para 2012 a troco da garantia de redução da TSU para as
empresas tão acarinhada por uma das mais retrógradas escolas do pensamento
económico.<br />
<br />
Sabe-se como a teoria da desvalorização interna é cara ao FMI e aos
doutrinários do Banco de Portugal. Sabe-se também que, até hoje, ela só foi
experimentada na Letónia, e que os seus resultados foram, numa avaliação
caridosa, inconclusivos. Faz-lhes falta, pois, testá-la num país de razoável
dimensão e complexidade económica como o nosso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Com a colaboração do governo
português, o FMI, que gosta de fazer experiências com animais vivos, encontrou neste
povo o ratinho de laboratório ideal.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Qual a probabilidade de que daqui
resultem consequência positivas para o crescimento e o emprego? A crer nos
estudos a seu tempo encomendados pelo governo português, quase nenhuma. Além
disso, os inquéritos regularmente lançados pelo INE mostram que as razões
invocadas pelos empresários para não contratarem mais trabalhadores são a
ausência de mercado e a indisponibilidade de crédito, não o nível salarial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A vingar a orientação anunciada,
dentro de um ano o país estará mais pobre e a sua economia terá sido
desarticulada. Pior ainda, a amargura e a desconfiança ter-se-ão apoderado dos
corações, porque não é impunemente que se passa um rolo compressor sobre as
legítimas expectativas das pessoas, suspendendo garantias, coarctando direitos
e abolindo vínculos. Uma sociedade civilizada não é um acampamento que a todo o
momento pode ser desmontado sem aviso prévio. A legitimidade dos sistemas
políticos, económicos e sociais é sustentada pela crença na boa-fé de quem
detém o poder aos mais variados níveis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não sobrevive por muito tempo a
convivência pacífica numa sociedade cujas classes dirigentes alienam a
confiança que nelas é depositada comportando-se de forma discricionária,
atrabiliária e irresponsável.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Voltemos então á Constituição.
Leis e contratos não precisam de ser longos quando se presume a boa-fé das
partes. Havendo identificação com a letra da norma dispensa-se excessiva cautela
com a sua letra. Doentia atenção ao pormenor e obsessiva preocupação em cobrir
todas as possíveis ocorrências supervenientes são, pois, sintomas de
desconfiança mútua.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sou, por tudo isso, forçado a
reconhecer a sabedoria dos constituintes de 1976 ao elaborarem um texto que,
embora rebarbativo, dificulta a sua desvirtuação pelos derrotados de Abril que
não se conformam. Tendo em conta a fragilidade das instituições, a podridão do
sistema partidário e a escassez de figuras públicas respeitadas, é bem possível
que só o Tribunal Constitucional consiga agora evitar a catástrofe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Publicado no Jornal de Negócios em 11.9.12 </b></span></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-30958803317638243792012-08-28T07:16:00.000-07:002012-10-30T07:19:13.126-07:00A economia da trafulhice<!--[if gte mso 9]><xml>
<o:OfficeDocumentSettings>
<o:AllowPNG/>
</o:OfficeDocumentSettings>
</xml><![endif]--><span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O agressivo ataque do historiador
Niall Ferguson a Barack Obama nas páginas da Newsweek – intitulado “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hit the Road, Barack</i>”, ou seja “Põe-te a
andar, Barack” – desencadeou nos últimos dias uma acesa polémica nos EUA. Mais
do que na substância do argumento, porém, o debate centrou-se na falsificação ou
truncagem de factos e fontes a que o autor recorreu para sustentá-lo.</span><br />
<!--[if gte mso 9]><xml>
<w:WordDocument>
<w:View>Normal</w:View>
<w:Zoom>0</w:Zoom>
<w:TrackMoves/>
<w:TrackFormatting/>
<w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone>
<w:PunctuationKerning/>
<w:ValidateAgainstSchemas/>
<w:SaveIfXMLInvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid>
<w:IgnoreMixedContent>false</w:IgnoreMixedContent>
<w:AlwaysShowPlaceholderText>false</w:AlwaysShowPlaceholderText>
<w:DoNotPromoteQF/>
<w:LidThemeOther>PT</w:LidThemeOther>
<w:LidThemeAsian>X-NONE</w:LidThemeAsian>
<w:LidThemeComplexScript>X-NONE</w:LidThemeComplexScript>
<w:Compatibility>
<w:BreakWrappedTables/>
<w:SnapToGridInCell/>
<w:WrapTextWithPunct/>
<w:UseAsianBreakRules/>
<w:DontGrowAutofit/>
<w:SplitPgBreakAndParaMark/>
<w:EnableOpenTypeKerning/>
<w:DontFlipMirrorIndents/>
<w:OverrideTableStyleHps/>
</w:Compatibility>
<m:mathPr>
<m:mathFont m:val="Cambria Math"/>
<m:brkBin m:val="before"/>
<m:brkBinSub m:val="--"/>
<m:smallFrac m:val="off"/>
<m:dispDef/>
<m:lMargin m:val="0"/>
<m:rMargin m:val="0"/>
<m:defJc m:val="centerGroup"/>
<m:wrapIndent m:val="1440"/>
<m:intLim m:val="subSup"/>
<m:naryLim m:val="undOvr"/>
</m:mathPr></w:WordDocument>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<w:LatentStyles DefLockedState="false" DefUnhideWhenUsed="true"
DefSemiHidden="true" DefQFormat="false" DefPriority="99"
LatentStyleCount="267">
<w:LsdException Locked="false" Priority="0" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Normal"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="heading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="9" QFormat="true" Name="heading 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 7"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 8"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" Name="toc 9"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="35" QFormat="true" Name="caption"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="10" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" Name="Default Paragraph Font"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="11" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtitle"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="22" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Strong"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="20" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="59" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Table Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Placeholder Text"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="1" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="No Spacing"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" UnhideWhenUsed="false" Name="Revision"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="34" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="List Paragraph"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="29" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="30" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Quote"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 1"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 2"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 3"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 4"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 5"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="60" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="61" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="62" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Light Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="63" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="64" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Shading 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="65" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="66" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium List 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="67" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 1 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="68" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 2 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="69" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Medium Grid 3 Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="70" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Dark List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="71" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Shading Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="72" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful List Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="73" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" Name="Colorful Grid Accent 6"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="19" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="21" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Emphasis"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="31" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Subtle Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="32" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Intense Reference"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="33" SemiHidden="false"
UnhideWhenUsed="false" QFormat="true" Name="Book Title"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="37" Name="Bibliography"/>
<w:LsdException Locked="false" Priority="39" QFormat="true" Name="TOC Heading"/>
</w:LatentStyles>
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]>
<style>
/* Style Definitions */
table.MsoNormalTable
{mso-style-name:"Tabela normal";
mso-tstyle-rowband-size:0;
mso-tstyle-colband-size:0;
mso-style-noshow:yes;
mso-style-priority:99;
mso-style-parent:"";
mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt;
mso-para-margin:0cm;
mso-para-margin-bottom:.0001pt;
mso-pagination:widow-orphan;
font-size:12.0pt;
mso-bidi-font-size:18.0pt;
font-family:"Batang","serif";
mso-fareast-font-family:Calibri;
mso-fareast-theme-font:minor-latin;
mso-fareast-language:EN-US;}
</style>
<![endif]-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Muito justamente, algumas pessoas
perguntaram como foi possível que Ferguson não tivesse tido o cuidado de evitar
erros tão grosseiros. Acaso não teme prejudicar a sua reputação nos meios
académicos e jornalísticos?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Num comentário publicado no
blogue de cultura da <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Esquire</i>, Stephen
Marche propõe uma inquietante explicação para o aparente enigma. Segundo ele,
Niall Ferguson é em primeiro lugar um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">entertainer</i>,
e só secundariamente um académico e um jornalista. Cada uma das suas
apresentações públicas custa a quem o contrata entre 50 a 75 mil dólares e a
presente controvérsia aumenta, em vez de diminuir, a procura dos seus serviços
pelos sectores republicanos mais extremistas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ferguson não tem, portanto, que
ser respeitado pelos seus pares universitários; tampouco tem que ser admirado
por quem se esforça por manter padrões elevados nos media. Basta-lhe ser
idolatrado por aquela parte da opinião pública que prefere o pugilato
ideológico ao debate de ideias. Acima de tudo, ele sabe que episódios como este
contribuem para reforçar ainda mais o seu estatuto de celebridade e que isso,
só por si, vale muito dinheiro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ora, não só o problema
identificado por Marche não é exclusivo dos EUA, como ainda é lá e num punhado
de outros países mais civilizados que subsistem instituições jornalísticas
suficientemente fortes para conseguirem resistir à maré alta da degradação dos
padrões do debate público. O comentário publicado entre nós oferece múltiplos
exemplos de académicos e figuras ilustres de diversos meios profissionais que não
hesitam em sacrificar a seriedade da argumentação ao protagonismo mediático.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O poder da notoriedade – isto é, da
mera circunstância de se ser conhecido – não pode deixar de espantar. As
pessoas tendem, ao que parece, a confiar mais em algo ou alguém pelo simples
facto de a conhecerem ou julgarem conhecer. Notoriedade gera familiaridade e
familiaridade gera, por sua vez, confiança. Descontando aquelas situações
extremas em que a celebridade se encontra patentemente associada a traços
repulsivos do sujeito em causa, a fama compensa na medida em que cria uma
predisposição genérica favorável e facilita o acesso a gente influente e
poderosa. Como afirmou Woody Allen, “80 por cento do sucesso consiste em simplesmente
aparecer”. É inquestionável o valor económico da notoriedade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O impacto da presença repetida
sobre a simpatia radica provavelmente em factores biológicos. Segundo o
psicólogo Robert Zajonc, a exposição repetida “permite a um organismo
distinguir os objectos e os habitats seguros dos que o não são, fornecendo a
base primitiva para os elos sociais. Constituem, por isso, a base da
organização e da coesão social.” O problema é que o instinto pode enganar-nos,
colocando-nos sob a influência de quem deveria antes suscitar-nos repulsa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Seja como for, parece óbvio que
os incentivos económicos descritos conduzem à desvalorização da importância da
reputação ao mesmo tempo que favorecem a disseminação da trafulhice nos media. Haverá
algum antídoto capaz de contrariar o perverso resultado desta análise
custo-benefício?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Primeiro, as más notícias. Dan
Ariely, o conhecido economista comportamental, acredita que a mera menção de
incentivos monetários pode degradar a predisposição das pessoas para cooperarem
umas com as outras com base em normas de boa conduta geralmente aceites. Por
conseguinte, ambientes que estimulam ou meramente desculpabilizam a ambição
pessoal levam os indivíduos a adoptarem uma atitude mais relaxada em relação à
defesa da sua reputação de seriedade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Por outro lado, o mesmo Ariely e
mais dois investigadores conceberam uma experiência em que, imediatamente antes
de os participantes terem a oportunidade de fazer batota sem serem detectados,
foram confrontados com uma declaração recordando-lhes a importância do
comportamento ético. O resultado foi a total ausência de comportamentos
desonestos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O que isto sugere é que a
definição e divulgação de padrões de conduta apropriados e a intenção declarada
de fazê-los aplicar podem ser suficientes para reduzir drasticamente os
comportamentos desviantes. Os juramentos, as regras deontológicas e os códigos
de ética e conduta empresariais talvez não sejam afinal tão ineficazes como por
vezes se crê, na condição de que os seus princípios sejam largamente divulgados
e frequentemente invocados pelos responsáveis das organizações.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Cambria","serif"; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><b>Publicado no Jornal de Negócios em 28.8.12 </b></span></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-90843373910867153372012-08-14T12:25:00.000-07:002012-10-30T07:19:20.635-07:00Fantasias orçamentaisMais gente acredita que há muito desperdício na gestão dos recursos
públicos do que no milagre de Fátima, e é sem dúvida fundada essa
crença. Vai daí, quase toda a gente supõe também que a sua eliminação
não só é fácil como prontamente garantiria o equilíbrio das contas
públicas. Ora, aí, já a opinião pública está a entrar no reino da
fantasia.<br />
<br />
Se, para o cidadão comum, sem outra referência que o
seu magro salário, uma despesa de um milhão de euros é uma quantia
mirabolante, que diremos então de um milhar de milhão? Ora, como
qualquer rubrica dos gastos públicos se mede na escala dos muitos
milhões, percebe-se a dificuldade que esse mesmo cidadão tem em entender
a sua relevância relativa à escala do país como um todo.<br />
<br />
Quase
todas as pessoas que conheço, incluindo muitas dotadas de razoável
instrução económica, estão persuadidas de que não só as Parcerias
Público-Privadas (PPP) são responsáveis por uma grossa fatia da despesa
nacional, como a sua renegociação permitiria de facto evitar sacrifícios
adicionais à população. Daí a sua surpresa quando são informadas de que
os encargos líquidos anuais do Estado com as PPP se ficam pelos 0,3% do
PIB, o que corresponde a uma pequena parcela do investimento público
médio anual nas últimas décadas.<br />
<br />
Resulta daqui evidente a ilusão
de que a muito badalada renegociação das PPP poderá contribuir para uma
redução considerável do défice. E note-se ainda que, se, em alternativa à
renegociação, se optar pelo lançamento de uma sobretaxa adicional,
dificilmente se poderá esperar um ganho superior a 0,04% do PIB.<br />
<br />
Seria
de supor que estas constatações bastassem para pôr cobro à cruzada
demagógica pela eliminação das "gorduras do estado". Em vez disso, o
governo optou há dias por uma nova caçada aos gambozinos, agora centrada
nos encargos com as transferências para as fundações.<br />
<br />
Segundo o
levantamento efectuado, quase metade dos encargos do estado teriam sido
encaminhados para a "fundação do Magalhães", mas sucede que, provindo
eles de contribuições das operadoras de telecomunicações que não podiam
ter outro destino, não custaram afinal um cêntimo aos contribuintes.
Como o grosso das transferências para fundações correspondem na verdade
ao financiamento público do ensino superior, conclui-se que, além de os
cortes possíveis se reduzirem a algumas dezenas de milhões de euros
anuais (estamos outra vez na escala dos 0,01% do PIB), o essencial deles
incidirá no financiamento de actividades culturais. Compreende-se: se
os Mirós da colecção do <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/BPN">BPN</a> vão ser leiloados, que fica cá a fazer a Paula Rego?<br />
<br />
Uma
outra variante de fantasia orçamental - esta mais popular à esquerda -
imagina que o défice se curaria milagrosamente com um imposto
extraordinário sobre as grandes fortunas. É facto que algumas pessoas
detêm colossais rendimentos e patrimónios e que o nosso injusto sistema
fiscal não os taxa como deveria. O problema é que, sendo essas pessoas
muito poucas, não se pode esperar daí a salvação da pátria.<br />
<br />
Imagine-se,
por absurdo, que em vez de taxar as grandes fortunas, se optava antes
por expropriar o património dos vinte e cinco portugueses mais ricos,
recentemente avaliado em 14,4 mil milhões. Parece (e é) muito dinheiro,
mas a sua comparação com o PIB nominal português, que presentemente
ronda os 180 mil milhões de euros, mostra que o impacto sobre as
finanças públicas de uma medida tão extrema e tão difícil de aplicar se
esgotaria num ano.<br />
<br />
Em resumo, não se atinge o equilíbrio
orçamental com passes de mágica. É justo que quem mais tem mais
contribua para o aumento das receitas do estado - o que decerto não tem
acontecido -, mas não é por aí que se consegue a redução de 6 mil
milhões de euros pretendida para 2013. Por outro lado, é importante que o
estado use melhor os recursos colocados à sua disposição, mas ganhos de
eficiência consistentes só se conseguem com trabalho sistemático,
persistente e demorado, não com cortes precipitados ou com motivações
obscuras. Se isso fosse fácil de fazer, decerto já estaria feito.<br />
<br />
Já
é suficientemente mau que uma gestão inepta das finanças públicas
esteja a conduzir ao empobrecimento geral da população, da humilhação da
classe média e da destruição de capacidade produtiva. Pior ainda, há
sinais preocupantes de que iniciativas precipitadas impulsionadas por
fanatismo ideológico e demagogia cega camufladas de combate às "gorduras
do estado" estão a criar uma <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/Administra%C3%A7%C3%A3o_P%C3%BAblica">Administração Pública</a> mais rígida, mais incompetente e mais ineficiente do que aquela que já tínhamos.<br />
<br />
A
cada dia que passa se torna mais evidente que sem crescimento económico
é impossível controlar duradouramente o défice e estancar o
endividamento. Tudo o resto é fantasia. Quando essa verdade for
finalmente aceite, teremos perdido anos e destruído recursos e boa
vontade numa escala sem precedentes.<br />
<br />
<b>Publicado em 14.8.12 no Jornal de Negócios </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-82498511332914071882012-07-31T11:49:00.000-07:002012-08-11T11:49:40.398-07:00Quem mexe os cordelinhos?<div class="com_shownews_lead paddingBottom20px">
Como se justifica a
mistura, na lista dos mais poderosos da economia portuguesa do Negócios,
de figuras tão diversas como Mario Draghi, Isabel Jonet, Arménio
Carlos, Ricardo Costa, Paulo Azevedo ou Hu Jintao?</div>
<div class="com_shownews_lead paddingBottom20px">
</div>
E em que consiste, precisamente, o poder
de que elas dispõem? Todas as definições em circulação convergem na
ideia de que o poder reside na possibilidade de condicionar as acções e o
pensamento dos outros de forma mais ou menos absoluta. Assim, há um
poder de comando sobre recursos ou pessoas, resultante da fortuna ou da
posição hierárquica; mas há também um poder de influência decorrente do
estatuto, do encanto pessoal, da inteligência ou do acesso privilegiado
aos meios de comunicação.<br /><br />Mas o que podem exactamente os
poderosos? Quando questionados a esse respeito, a resposta dos próprios
variará consoante o momento e as circunstâncias. Assim, os proprietários
dos media ora se ufanam de serem o "quarto poder", ora se declaram
escravos das audiências (o que não deixa de comportar uma dose de
verdade). <br /><br />Algo semelhante se passa na política. É duvidoso que
alguém suficientemente inocente para acreditar no poder quase ilimitado
do cargo alguma vez chegue a primeiro-ministro. Mas, se isso porventura
ocorresse, cedo se desenganaria. Não só no sentido trivial em que
qualquer chefe de governo é condicionado pelas escolhas dos seus
antecessores, mas também naquele outro, bem mais inquietante, de que,
sob pena de paralisar o país, é literalmente forçado a avalizar muitas
soluções antecipadamente congeminadas pelos representantes orgânicos dos
mais variados poderes instituídos que o cercam.<br /><br />Será diferente
no sector privado? Está na moda, em resultado dos sucessivos escândalos
dos últimos anos, acreditar-se que os banqueiros são pessoas moralmente
mais deficientes do que o cidadão comum. Mas pode contra-argumentar-se
com fundamento de que é a própria constituição do sistema financeiro que
produz trapaceiros em tão larga escala. É claro que os indivíduos em
causa poderiam recusar as regras do jogo, mas isso equivaleria a
hipotecarem as suas chances de subirem na organização.<br /><br />Embora a
noção case mal com as ideias dominantes sobre a liberdade individual, a
verdade é que, por regra, os poderosos não passam de agentes mais ou
menos entusiastas, mais ou menos passivos, mais ou menos resignados de
vastos poderes impessoais que, uma vez aceites, se apoderam das suas
almas a ponto de os envolverem numa apertada teia de condicionamentos
que, salvo um raro gesto heróico de recusa, os impelem numa via sem
retorno. Por alguma razão, Marx intitulou a sua principal obra "O
Capital", não "Os Capitalistas": na sua lúcida concepção, os segundos
são meros agentes de um princípio activo que os transcende e que é,
precisamente, o capital.<br /><br />O poder autêntico não tem nome próprio
nem lugar. É silencioso, impessoal, fáctico, imaterial. É uma força
cega, implacável, que não conhece limites. Tem horror ao vazio, por isso
ocupa todo o espaço que encontra livre. É um deus que premeia com
largueza quem o serve e persegue ferozmente quem ousa contrariá-lo.
Aprecia ser temido e adulado.<br /><br />Mas falar de poder no singular é
ainda um abuso de linguagem. O que há são poderes, não poder uno e
indivisível. Pelos interstícios desses poderes consegue assim afirmar-se
o arbítrio individual, servindo estes, combatendo aqueles ou jogando
uns contra os outros –, ou seja, decidindo que partido tomará e com quem
se aliará.<br /><br />A ideia de que o poder emana de um lugar específico
ou, ao menos, de um círculo restrito de pessoas, é apenas uma variante
da teoria que interpreta tudo o que no mundo acontece como resultado de
uma vasta conspiração concebida, produzida, realizada e trazida até nós
por um clique de poderosos, algo a que com propriedade se poderia chamar
"os donos de Portugal", aqueles que mexem os cordelinhos.<br /><br />Qualquer
listagem de poderosos vale antes de tudo como encenação do poder, que é
o modo como o dito gosta de dar-se a conhecer, com que caras gosta de
ser identificado, a imagem que a dado momento escolhe para se revelar
aos crentes.<br /><br />Figurar na lista dos mais poderosos pode não ser,
por isso, uma posição lisonjeira. No mínimo, deveria provocar nos
próprios um sobressalto e suscitar-lhes algumas interrogações, tais como
"Que faço eu aqui?", "Que pacto assinei, quando, como e com quem?" ou,
alternativamente, "Que mal fiz eu para merecer isto?"<br />
<br />
<b>Publicado em 31.7.12 no Jornal de Negócios </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-20469576419200353952012-07-16T11:43:00.000-07:002012-08-11T11:45:01.538-07:00Nenhum economista deveria poder viver acima das suas possibilidades governativasTirando uma breve interrupção durante a 2.ª Guerra Mundial, as
importações portuguesas superaram sempre as exportações ao longo do
século passado e dos primeiros anos do presente. Anuncia-se, porém, que
está para breve – talvez já para 2013 – o restabelecimento do
equilíbrio.<br /><br />Como foi possível um período tão longo de défices
crónicos? Será que vivemos todo esse tempo acima das nossas
possibilidades? É possível que nunca tivéssemos tido uma economia
competitiva? E que espécie de milagre é este que nos está agora a
acontecer?<br /><br />Durante a maior parte do século XVIII, o Brasil
forneceu cerca de metade do ouro produzido em todo o mundo. A crença
dominante, então como hoje, declara que essa riqueza foi desperdiçada
comprando produtos estrangeiros em vez de usá-la para desenvolver a
produção nacional. Mas isso equivale a ignorar que, a menos que se
tivesse proibido a extracção e comercialização do ouro (poder de que a
Coroa portuguesa flagrantemente carecia), era forçoso que fosse
exportado (porque não havia procura bastante para ele cá dentro) e que
em troca se recebesse outras mercadorias (já que não faria sentido
permutar ouro por ouro ).<br /><br />Quanto à ideia de utilizar parte dessas
receitas para fortalecer a indústria nacional, foi exactamente o que o
estado e os particulares tentaram fazer, dentro das limitações do país
na época. Porque a indústria não se faz apenas com capital, mas também
com matérias-primas, força de trabalho e conhecimentos técnicos, todos
eles escassos no Portugal daquele tempo.<br /><br />Este episódio da nossa
história ilustra o efeito perturbador que uma circunstância
razoavelmente imprevisível (neste caso, a descoberta do ouro) pode ter
sobre o equilíbrio externo de uma economia. Dada a incontornável
necessidade de se compensar o fluxo de saída do ouro com um outro de
entrada de mercadorias, era inevitável que a balança comercial
registasse um enorme défice. Quando, por fim, se esgotaram as reservas
de ouro, ficámos impossibilitados de financiar o excesso de importações e
o problema demorou muito tempo a ser resolvido. <br /><br />Avançando para a
actualidade, sabe-se que, a partir de 1910 e quase até ao final do
século XX, Portugal logrou um crescimento sustentado do produto "per
capita" a um ritmo comparativamente alto. Esse desempenho, criando
expectativas elevadas, atraiu um volume considerável e persistente de
investimento directo estrangeiro, dando origem a importações muito
superiores às exportações para equilibrar a balança de pagamentos.
Trata-se, note-se, de uma inevitabilidade contabilística: um fluxo
líquido positivo de investimento estrangeiro tem obrigatoriamente que
ser compensado por um défice da balança de transacções correntes. Logo, o
nosso endémico défice externo não decorreu, a maior parte do tempo, de
qualquer defeito estrutural da economia portuguesa, antes das
expectativas optimistas dos estrangeiros em relação ao seu potencial de
crescimento.<br /><br />Um belo dia, porém, a partir de meados dos anos 90, a
quase simultânea emergência de novas e gigantescas oportunidades no
leste europeu, na China e na Índia desviou as atenções dos investidores
internacionais de Portugal e abriu um grande buraco nas nossas contas
externas. Se as economias fossem redutíveis a um sistema de equações, o
ajustamento às novas circunstâncias far-se-ia de modo rápido e indolor
manipulando alguns parâmetros. Porém, mesmo quando o entendimento do que
se está a passar é imediato, nem a capacidade exportadora, nem a
propensão à importação podem ser alteradas de um dia para o outro, de
modo que a solução imediata é o endividamento enquanto se procede à
reestruturação da economia para fazer face às novas circunstâncias.<br /><br />A
ausência de política monetária e cambial própria decorrente da
integração do país no sistema monetário europeu tornou mais difícil o
ajustamento, porque nem as famílias, nem as empresas, nem o próprio
estado tinham incentivos para reajustarem os seus comportamentos às
novas circunstâncias. Não se alterando os padrões de despesa, foi-se
prolongando até hoje o excesso de importação.<br /><br />É por tudo isto que
um economista que se preza não se atreve a estabelecer uma relação
simplista entre défice comercial e competitividade, pois sabe que uma
economia pujante pode conviver durante décadas com uma balança de
transacções deficitária. Tampouco recorre à linguagem moralista –
"vivemos acima das nossas possibilidades" – para explicar um
desequilíbrio persistente das contas externas, porque isso não contribui
para o entendimento das suas causas, apenas para sugerir soluções que
penalizam a parte mais vulnerável da população.<br /><br />Podemos agora
regressar às questões iniciais: Um défice externo é sempre consequência
de uma falha de competitividade? – Não necessariamente. E pode esse
desequilíbrio manter-se por muito tempo? – Às vezes, isso é não só
possível como mesmo inevitável. <br /><br />Uma economia relativamente
pequena, frágil e excêntrica como a nossa enfrentou e ultrapassou várias
vezes ao longo da sua história situações graves como aquela que agora
vive. Mas é um engano acreditar-se que esta será superada como que por
milagre, só porque uma população descrente interrompeu temporariamente
as compras de automóveis e maquinaria que o país massivamente necessita
de importar. A prosperidade não está ainda ao virar da esquina.<br />
<br />
<b>Publicado em 16.7.12 no Jornal de Negócios </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-46513059495668927802012-07-02T11:41:00.000-07:002012-08-11T11:41:29.036-07:00O governo dos bancos, pelos bancos e para os bancosA grande fome irlandesa de 1845 dizimou a população a tal ponto que
jamais voltou a ser tão grande como então. Como a visão britânica
dominante atribuía a catástrofe à preguiça e à inépcia dos nativos, os
colonizadores rejeitaram os pedidos de ajuda argumentando que era
preciso forçá-los a alterar atitudes culturais inadequadas.<br /><br />Um
século mais tarde, na Índia, os mesmos preconceitos voltaram a ser
invocados pelos ingleses tanto para justificar a fome em Bengala como
para recusar o auxílio massivo às populações afectadas. Neste como
noutros casos, o sentimento de superioridade nacional apaziguou as
consciências e disfarçou a desumanidade das atitudes. "Do que eles
precisam não é de ajuda, mas de reformas."<br /><br />Curiosamente, nem a
Irlanda, nem a Índia, nem qualquer outro país voltou a padecer de fomes
endémicas a partir do momento em que conquistou a independência e
instalou um sistema democrático, provando que o problema não estava na
carência de recursos, mas na sua distribuição. Definitivamente, a
democracia não tolera a privação massiva.<br /><br />Diz-se que toda a gente
está interessada no desenvolvimento e que, por conseguinte, ninguém
impõe por gosto políticas de austeridade que condenam as populações ao
empobrecimento. "Ninguém deseja fazer mal às pessoas", eis a sonsa
expressão que diariamente escutamos. Mas apenas os pobres necessitam de
desenvolvimento; os ricos só precisam de criados.<br /><br />Quase meia década decorrida desde o início da crise financeira,
não só ela permanece sem fim à vista, como se assiste a uma intolerável
operação de revisão da história recente tendente a ilibar os
responsáveis e a culpar as vítimas. Pior ainda, o poder político
efectivo é progressivamente retirado aos povos e transferido, pela mão
dos bancos centrais, para os círculos financeiros cujo descontrolo nos
trouxe até aqui. Já não escandaliza a ideia de meter a democracia na
gaveta.<br /><br />A doutrina oficial sustenta que o considerável poder do BCE
deve ser posto ao serviço dos bancos, não dos cidadãos ou dos estados.
Caridade para os primeiros, punição para os segundos. A sageza dos
bancos centrais é-nos apresentada como o derradeiro baluarte contra as
insensatas exigências da multidão representada por governos demasiado
sensíveis à vontade popular.<br /><br />Sempre que possível, os executivos
saídos de eleições são substituídos por outros liderados por algum
economista com o selo de garantia do BCE, do Goldman Sachs, do Lehman
Brothers, ou equivalente. No mínimo, as pastas da economia e das
finanças deverão ser entregues a um legítimo representante da
corporação.<br /><br />A independência dos bancos centrais não pode ser
absoluta e incondicional, sob pena de dar origem a um contrapoder
inaceitável numa sociedade democrática bem formada. Mas os banqueiros
centrais – uma casta divorciada do sentimento do cidadão comum –
julgam-se hoje no direito de impor aos governos nacionais as suas
políticas preferidas, declarando-as, ainda por cima, inquestionáveis.<br /><br />Afirmando-se
detentores de saberes esotéricos, arrogam-se o direito de,
sobrepondo-se a todos os poderes constitucionais, legislativos e
judiciais existentes, ditarem o que deve ser feito em matérias tão
graves como a gestão orçamental, a regulamentação dos mercados laborais,
os regimes de pensões dos reformados ou as políticas de saúde e da
educação, exorbitando largamente do mandato que lhes foi conferido.<br /><br />A
importância sistémica da banca justifica, ao que parece, tudo isto e
muito mais. Além da protecção do sistema financeiro não legitimar o
apoio ilimitado aos accionistas dos bancos, convém recordar que há
outros riscos sistémicos sérios a considerar na presente situação. Isto
deveria ser evidente para quem entende que acima das finanças está a
economia e que a saúde dela depende da preservação e valorização da
capacidade produtiva das empresas e dos recursos qualificados que elas
empregam.<br /><br />Quando o sistema financeiro se fecha sobre si próprio e
se aliena da economia real, reclamando sangue, suor e lágrimas sem fim à
vista, é caso para dizer-se que ele se tornou incompatível com a
sobrevivência de uma economia de mercado sofisticada, orientada para a
inovação, o emprego e o crescimento.<br /><br />O desenvolvimento não é uma
montanha de produtos, é um estado de civilização complexo que inclui
como ingredientes essenciais uma população educada e saudável, liberdade
individual e colectiva, oportunidades de enriquecimento espiritual e
material, solidariedade na adversidade, relação harmoniosa com o
ambiente e desígnios partilhados. Destruindo os genuínos suportes de uma
economia sã, no final não restará nada –, mas, ao menos, tampouco
haverá dívidas.<br />
<br />
<b>Publicado em 2.7.12 no Jornal de Negócios</b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-17975657320872142832012-06-18T11:35:00.000-07:002012-08-11T11:36:15.500-07:00Não se pode tomar banho duas vezes nas águas da mesma Europa<div style="color: black;">
Lembrem-se. Angela Merkel
proclamou há apenas dois anos que cada país da zona euro só poderia
contar consigo mesmo para reequilibrar as suas finanças no rescaldo da
recessão de 2009: nada de "bail-outs", nada de intervenções do BCE, nada de união fiscal e, além disso, nem pensar em pedir ajuda ao FMI. Em suma, cada um por si.<br /><br /><span>É
inquestionável que a actuação errática do governo do mais poderoso país
europeu, acossado pela xenofobia dos tablóides domésticos e pela
intransigência do Tribunal Constitucional alemão, foi determinante no agravamento da presente crise.</span><br /><br /><span>Pelo
caminho, não hesitou em subverter o funcionamento das instituições
europeias. Tratados, procedimentos, regras de salutar convivência,
vontade dos povos, soberania dos estados-membros, simples normas de boa
educação, tudo isso foi posto de parte. A Alemanha é hoje um camião TIR a
circular pelas auto-estradas europeias na noite escura, de luzes
apagadas e fora da mão. Para cúmulo, Merkel adormece com frequência ao
volante.</span><br /><br /><span>O resultado da imposição alemã foi
mergulhar a Europa num estado generalizado de excepção. O combate aos
vícios da indisciplina e da preguiça das raças católicas (Irlanda
incluída) justifica e exige todas as punições, forçando-as, se
necessário, a morrer acima das suas possibilidades. É preciso governar
para alemão ver. Mas a estratégia revelou-se tão absurda que até em Berlim já há quem desconfie que não se pode ir ao bolso a um homem nu.</span><br /><br /><span>Fracassada
a doutrina da "austeridade expansionista", a mais recente lengalenga é a
compatibilização do crescimento com a austeridade. Infelizmente,
acrescentam, não se pode decretar o crescimento. E que tal se se
começasse por remover as políticas que o inibem, tais como o pacto
orçamental, a contenção da procura interna nos países com baixos níveis
de desemprego e as proibições de o BCE emprestar directamente aos
estados e recapitalizar os bancos em dificuldades?</span><br /><br /><span>Dados
os elevadíssimos níveis de endividamento públicos e privados, só há
duas alternativas para reactivar a procura e relançar o crescimento: ou
se espera vinte anos até que se complete a desalavancagem; ou se
desvaloriza as dívidas e se imprime dinheiro para recapitalizar os
bancos.</span><br /><br /><span>Embora, nas palavras de Martin Wolf, o
pânico se tenha transformado, nas presentes circunstâncias de inacção
europeia, na única reacção racional perante o progressivo afundamento da
zona euro, há ainda quem acredite que o que tem de ser feito acabará
por ser feito, uma vez esgotado o repertório de políticas insensatas. </span><br /><br /><span>Esta
esperança afigura-se infundada, visto que um rearranjo racional da zona
euro exigirá sempre profundas transformações políticas, que esbarrarão,
em última análise, na oposição do tribunal constitucional alemão. A
única moeda única que ele alguma vez reconhecerá será o euro do Reno.</span><br /><br /><span>Mas
há um problema ainda mais grave do que esse. Fala-se muito em
reconquistar a confiança dos mercados, mas o que irremediavelmente se
destruiu na Europa foi a confiança dos cidadãos. </span><span><br /><span>Sabemos hoje de ciência certa que a Alemanha, além de só cumprir os tratados e as leis da União Europeia
quando lhe convém, tem ainda o poder de espezinhar as constituições dos
estados-membros, de derrubar governos eleitos, de se sobrepor aos
governos legítimos, de impor as políticas que mais lhe agradam, de
forçar a ruptura dos contratos implícitos e explícitos entre os estados e
os seus cidadãos. Como pode alguém confiar num parceiro assim?</span><br /><br /><span>A
inocência, uma vez perdida, não se recupera. O idealismo não se
fabrica. O sonho da cidadania europeia foi brutalmente aniquilado. A
presunção de má-fé conduz inevitavelmente à desagregação. Liquidada a
confiança nas elites europeias, está, de facto, bloqueado o caminho para
o aprofundamento da união política.</span><br /><br /><span>Não se pode
tomar banho duas vezes nas águas do mesmo rio, pois que o rio,
entretanto, já não é o mesmo. O que se fez pode eventualmente ser
desfeito, mas sempre deixará marcas. Espíritos obtusos, enfronhados no
dogma, lentos a reagir, atolados na pasmaceira, adeptos de Parménides
contra Heráclito, têm grande dificuldade em entender isto. "Verstehen
sie mich wenn ich langsam spreche?"</span></span></div>
<div style="color: black;">
<br /></div>
<div style="color: black;">
<span><span><b>Publicado em 18.6.12 no Jornal de Negócios </b></span></span></div>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-18122418945430202012012-06-04T11:51:00.000-07:002012-08-11T11:51:56.940-07:00Grátis!"Grátis" é, segundo David Ogilvy, a palavra mais poderosa em
publicidade. Toda a gente gosta de receber algo de graça, mesmo que de
valor insignificante, como as calculadoras que são oferecidas aos novos
assinantes de uma publicação que se decidam no prazo de quinze dias.<br /><br />Quando, em plena Grande Depressão, procurava emprego em <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/Nova_Iorque">Nova Iorque</a>,
Lester Wunderman, o pai do marketing directo, lembrou-se de fazer aos
potenciais empregadores uma proposta imbatível: pelo salário de uma só
pessoa contratá-lo-iam a ele e ao irmão. Funcionou, porque "paga um e
leva dois" (aritmeticamente equivalente a um desconto de 50%) dá a
satisfação irresistível de se levar qualquer coisa à borla.<br /><br />A
fúria do grátis tomou conta da Internet, onde a imensa maioria da
informação, do entretenimento e dos serviços disponíveis exibe um preço
zero. A explicação económica do fenómeno reside na facilidade da cópia
que, no mundo digital, aproxima os custos marginais do zero. Por isso, o
modelo de negócio preferido na Net consiste em fazer pagar não os
utilizadores, mas os anunciantes em busca de audiências a todo o preço.<br /><br />A moda extravasou entretanto para o mundo "offline", e dir-se-ia que, ao menos aqui, Portugal está na vanguarda.<br /><br />Tudo
começou com a generalização dos estágios profissionais não remunerados,
mediante os quais multidões de jovens são persuadidas a trabalhar anos a
fio sem remuneração na esperança de um futuro radioso que jamais virá.
Entretanto, ajudada pelo estranho espírito do tempo, essa estratégia de
recursos humanos foi paulatinamente subindo na escala social.<br /><br />E foi assim que, no ano passado, passámos a ter um Presidente da República grátis, quando Aníbal <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/Cavaco_Silva">Cavaco Silva</a>
prescindiu do seu salário de supremo magistrado da nação para, em
compensação, poder auferir uma reforma de valor bem mais elevado.<br /><br />O
exemplo vem de cima? Mais recentemente, o país ficou a saber que também
o Presidente da Caixa Geral de Depósitos preferiu desistir do seu
vencimento, degradado por regras que condicionam o que pode ser pago aos
gestores de empresas públicas ou propriedade do estado. O expediente
aqui encontrado foi mais original: Faria e Oliveira foi eleito
Presidente da Associação Portuguesa de Bancos, bem mais generosa que o
sector público a pagar quem a serve com lealdade.<br /><br />Mas o caso mais interessante de gratuitidade é sem dúvida o de <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/Ant%C3%B3nio_Borges">António Borges</a>.
Borges não tem em teoria nenhum cargo oficial no governo, visto ter
sido contratado apenas para superintender no processo de privatizações.
Na prática, percebe-se que o seu papel é suprir a notória incapacidade
do actual ministro da Economia, retirando a Álvaro Santos Pereira um dos
dossiês mais quentes. O arranjo só tem vantagens: Borges tem funções
políticas, comporta-se como um político e dá entrevistas políticas;
porém, não presta contas perante a opinião pública e, sobretudo, não se
rebaixa a ganhar como um político.<br /><br />Trata-se de um político e governante em "part-time", gentilmente cedido pela Fundação Champallimaud e pela <a class="enlace_noticia" href="http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=FICHA_ACCAO_V2&isin=PTJMT0AE0001&plaza=51&calidad=df&indice=psigeneral&nom=Jer%C3%B3nimo%20Martins">Jerónimo Martins</a>,
entidades com liberdade para o remunerar como decerto merece. Digamos
que praticam uma espécie de benemerência permitindo a um dos seus mais
destacados quadros que exerça uma actividade "pro bono" em benefício de
todos nós; ou, em alternativa, que patrocinam o Ministério da Economia
pagando a um alto funcionário um vencimento que ele não está autorizado a
desembolsar.<br /><br />Um bocado confuso, não é? Sim, mas não
absolutamente inédito se considerarmos a situação numa perspectiva
histórica. No Antigo Regime, era corrente os altos funcionários do
Estado pagarem pelo direito a ascenderem a certos cargos especialmente
cobiçados pelo poder tanto real como simbólico de que se encontravam
investidos.<br /><br />Começamos assim a perceber onde nos leva a arruaça
demagógica que, desde há tempos, se encarregou de empurrar cada vez mais
para baixo os vencimentos dos titulares de cargos públicos e similares.
Não tarda, ninguém oriundo da classe média poderá dar-se ao luxo de
dedicar a sua vida à actividade política, seja como autarca, deputado,
ministro ou Presidente da República. Tais posições só poderão ser
assumidas por aqueles que, dispondo de fortuna pessoal ou de outros
rendimentos de proveniência mais ou menos clara, possam dar-se ao luxo
de trabalhar gratuitamente.<br /><br />É isso o que queremos?<br />
<br />
<b>Publicado em 4.6.12 no Jornal de Negócios </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-59994566385513391962012-05-21T11:55:00.000-07:002012-08-11T11:55:22.665-07:00Evergetismo, disfunção contemporânea do capitalismoUm conhecido empresário nacional afirmou numa entrevista ser o primeiro
da sua família a trabalhar em sete gerações. A diferença entre ele e os
seus antepassados será mais semântica do que real, pois jamais ocorreria
a Luís XIV chamar trabalho ao exercício do poder ou a actividades de
representação social, que é basicamente o que os CEO hoje fazem.<br /><br />Trabalho
era outrora recurso de necessitados, não uma ocupação digna das classes
superiores. Mas o triunfo do espírito democrático tornou o ócio
vergonhoso: não trabalhar parece mal, pois equivale a viver à custa do
suor alheio; de modo que a palavra trabalho abarca agora qualquer forma
de agitação quotidiana e sistemática não inteiramente desonrosa.<br /><br />É
assim que o hiper-milionário desta era pós-ociosa circula, hoje, nos
mesmos ambientes que a camada superior dos assalariados que asseguram a
gestão profissional dos seus empreendimentos. Distinguir entre ambos
tornou-se tarefa árdua para o povinho, para o qual presidentes
executivos como <a class="enlace_noticia" href="http://topicos.jornaldenegocios.pt/Ant%C3%B3nio_Mexia">António Mexia</a> ou capitalistas como Américo Amorim são farinha do mesmo saco.<br /><br />Trivializaram-se
do mesmo passo certos sinais de opulência, por estarem ao alcance tanto
duns como doutros. Porém, milionário a valer sabe que menos é mais:
Gates, Buffet ou o malogrado Jobs vestem-se sobriamente. A farda de
trabalho do super-rico contemporâneo, de que Zuckerberg vale como ícone,
resume-se a jeans, t-shirt e sapatilhas.<br /><br />Por outro lado, na
eterna busca de bens posicionais que os distingam dos pequenos e médios
ricos, cujas fileiras engrossam a olhos vistos, mansões na Côte d’Azur,
iates de 150 metros e ilhas privadas não bastam hoje para sinalizar o
nababo genuíno. De modo que, quem quer ser alguém, compra antes um clube
de futebol, como fizeram Abramovich ou o xeque Mansour Nayhan. Ou
então, imitando Berlusconi, opta por comprar um cargo de
primeiro-ministro, com os resultados que se sabe. Num plano
incomensuravelmente mais perverso, pode fazer como Bin Laden, que
aplicou a riqueza familiar na construção de uma rede terrorista
internacional dedicada a chacinar infiéis.<br /><br />Felizmente, dir-se-á,
nem todos os milionários têm o mau gosto de santificar as suas fortunas
aplicando-as no futebol, ou a falta de senso de as usarem para
conquistar poder político. Assim, Gates, Buffet, Soros e Bloomberg
criaram instituições de solidariedade social dotadas de meios
financeiros superiores àqueles de que muitos estados dispõem para
promoverem o combate à malária ou a melhoria dos sistemas educativos.<br /><br />A
vulgarização das magnânimas excentricidades dos ricos faz lembrar
irresistivelmente o "evergetismo", expressão cunhada pelo historiador
André Boulanger para designar a prática, comum na Roma Antiga,
consistente em os ricos e poderosos oferecerem generosamente à
comunidade bibliotecas, templos, banhos públicos e escolas, mas também
espectáculos de circo, combates de gladiadores e festividades diversas.<br /><br />Implícita
nestas ofertas está a mensagem: "Disponho-me a contribuir para o
bem-estar da comunidade, com a condição de poder decidir como o dinheiro
será gasto, visto ter provado que uso melhor os recursos financeiros do
que os políticos." Ou seja, a classe dirigente reconhece ter deveres
sociais, mas exige ser ela a decidir em que consistirão. O mecenato
surge, assim, como uma alternativa (inteiramente satisfatória para ela) à
redistribuição promovida pelo estado. Por um lado, exibe o seu poder e
afirma a sua superioridade tanto material como espiritual; por outro,
livra-se da má consciência que ao sucesso tantas vezes está associada e
alcança o perdão dos seus privilégios.<br /><br />Ora, isto mina os
princípios da universalidade e da igualdade de direitos. A sociedade
volta a cindir-se em dois campos: de um lado os "homens-bons" que
assumem a título privado a gestão do bem-estar colectivo; do outro, uma
plebe infantilizada e privada de tomar decisões de relevo no que toca à
provisão de bens públicos.<br /><br />Ouve-se às vezes perguntar qual será o
mal de alguém acumular uma riqueza colossal, se isso não implica o
empobrecimento dos seus concidadãos. A desigualdade só é nociva, diz-se,
quanto resulta da miséria dos de baixo, não quando decorre do
enriquecimento dos de cima. Mas o recrudescimento contemporâneo do
"evergetismo" típico de sociedades plutocráticas sugere que a crescente
desigualdade económica conduz em linha recta à desigual cidadania.
Permanecemos na aparência iguais, mas alguns definitivamente mais iguais
do que outros.<br />
<br />
<b>Publicado em 21.5.12 no Jornal de Negócios </b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-74566084821127605942012-05-09T09:02:00.004-07:002012-05-09T09:06:58.245-07:00Histórias da carochinha para graúdosOs portugueses estão habituados a esperar que alguém, de preferência o Estado, lhes arranje emprego. Falta-lhes capacidade de ir à luta, criar o seu próprio posto de trabalho e produzir riqueza. Vivem demasiado acomodados à sombra de direitos adquiridos. Esperam que alguém lhes resolva os problemas, enfronhados numa atitude resignada e fatalista.<br />
<br />
Alguém se atreve a duvidar da justeza deste diagnóstico quotidianamente repetido <i>ad nauseam</i> por empresários, professores universitários, consultores e jornalistas<br />
<br />
Ora vamos, por um instante, fazer de conta que a realidade existe – pode ser? Consultando as estatísticas, constata-se que temos já uma brutalidade de gente a trabalhar por conta própria ou em empresas familiares – nada menos que 42% de activos empregados em empresas com 9 ou menos trabalhadores. Por comparação, apenas 19% dos trabalhadores alemães e 11% dos americanos laboram em empresas dessa dimensão. Aparentemente, atitude empreendedora é coisa que não falta por cá.<br />
<br />
Nada há de estranho, note-se, neste fenómeno, dado que, ao contrário do que se diz, os níveis mais elevados de iniciativa empresarial são registados nos países mais atrasados. O auto-emprego abrange 67% dos activos no Gana e 75% no Bangladesh, mas apenas 7% na Noruega, 8% nos EUA e 9% na França. Mesmo excluindo os camponeses, a probabilidade de alguém ser empresário é duas vezes maior nos países atrasados do que nos desenvolvidos.<br />
<br />
A esmagadora maioria das pessoas dos países ricos emprega-se em organizações que agrupam centenas ou milhares de trabalhadores e jamais sonha criar a sua própria empresa. Isso é excelente, porque pouquíssimos dispõem de vocação ou competência para fazê-lo. Em contrapartida, nos países pobres muitos são forçados a criar o seu próprio negócio para fugirem ao desemprego.<br />
<br />
O facto indesmentível é que, entre nós, o sector propriamente capitalista da economia jamais conseguiu criar postos de trabalho em quantidade (e, já agora, em qualidade) capaz de dar ocupação a uma parte substancial da força de trabalho nacional. Seja qual for a explicação, podemos estar certos de que esta proliferação de empresas anãs – que, espantosamente, se acentuou nas últimas décadas e, ainda mais espantosamente, alguns querem consolidar – é uma receita infalível para a improdutividade e a pobreza.<br />
<br />
A promoção do empreendedorismo heróico individual é um anacronismo, que serve apenas para culpar os desempregados da sua própria infelicidade. O empreendedorismo relevante, que gera inovações úteis e desenvolvimento, é, no mundo contemporâneo, um fenómeno essencialmente colectivo. Steve Jobs nunca passaria de um amável biscateiro se não beneficiasse das invenções do Centro de Palo Alto da Xerox, se não dispusesse de uma plêiade de engenheiros formados por grandes universidades, se não houvesse um mercado de milhões de pessoas cultas e qualificadas ansiosas por utilizar os seus produtos e se não tivesse acesso a fontes de financiamento adequadas às necessidades de uma <i>start-up</i>.<br />
<br />
Por outras palavras, o que distingue as sociedades progressivas é a sua capacidade de orientar os instintos criativos dos cidadãos para actividades socialmente úteis e economicamente valiosas, pondo ao seu alcance um acervo de recursos humanos, tecnológicos e financeiros de grande nível.<br />
<br />
Acresce que o empreendedorismo de maior sucesso tem origem em grandes empresas, usualmente em cooperação com outras. O sistema operativo da Microsoft foi um subproduto de um projecto da IBM. Em Portugal, as mais marcantes inovações das últimas décadas – o telemóvel pré-pago e a portagem electrónica – resultaram de iniciativas de grandes empresas (ainda por cima, públicas).<br />
<br />
Não precisamos de exortações ao espírito empreendedor da população, meras histórias da carochinha para adultos. Não precisamos de mais empresas sem escala nem competências. Precisamos de melhores empresas e, sobretudo, de melhor empreendedorismo orientado para o desenvolvimento de actividades inovadoras e geradoras de emprego qualificado.<br />
<br />
Padecemos de um excesso de empreendedorismo do tipo errado. Em contrapartida, o empreendedorismo do tipo certo não floresce em Portugal porque as empresas que dispõem dos indispensáveis recursos se dedicam a actividades de extracção de rendas económicas, enquanto as restantes não têm acesso ao financiamento de que necessitam para poderem expandir-se com a necessária rapidez. Cuide-se dessa deformidade, que o empreendedorismo cuidará de si próprio.<br />
<br />
<b>Publicado no Jornal de Negócios em 8.5.12</b>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3330642828437981250.post-28940092724777440742012-04-26T14:01:00.000-07:002012-04-26T14:02:59.745-07:00O direito ao orgulho no trabalho bem feitoImagine que não havia maternidades e que, ao romperem-lhe as águas, uma
grávida que não confiasse em curiosas telefonaria ao seu médico
assistente a anunciar-lhe que a coisa estava para breve.<br />
<br />
Por sua
vez, ele convocaria um a um os enfermeiros e restante pessoal auxiliar
indispensável para ajudar no parto. Seguir-se-iam o aluguer, pelo
período considerado necessário, de uma sala conveniente e do equipamento
indispensável. Por último, seriam contratados os medicamentos e
materiais clínicos necessários.<br />
<br />
Em teoria, não fazem falta
maternidades para assistir partos. Basta que um grupo de profissionais
qualificados se associe no momento certo, contratando com o médico que
chefia a equipa as condições de prestação do serviço.<br />
<br />
Sucede,
porém, que o método se adapta mal à emergência da situação. Tendo em
conta o carácter ocasional da cooperação, é natural que os envolvidos
aproveitem a ocasião para negociar os respectivos honorários e restantes
condições de trabalho. Se não se apressam – e porque haveriam de
apressar-se? – é muito possível que, entretanto, nasça a criança.<br />
<br />
Todavia,
considerando a regularidade da ocorrência de partos, o líder da equipa
poderia estabelecer contratos estáveis de prestação de serviços, sem
necessidade de entabular negociações de cada vez que fosse chamado por
uma parturiente. Continuaria, porém, a não haver maternidades: os
profissionais envolvidos contratariam directamente entre si o serviço em
vez de se vincularem por contratos de trabalho com uma instituição
responsável por coordenar a sua actividade. A coordenação dos seus
esforços far-se-ia através do mercado, e não de uma empresa.<br />
<br />
Poder-se-ia
confiar num tal arranjo para garantir partos seguros a mães e crianças,
por um preço razoável? Ronald Coase, hoje com 101 anos de idade,
ganhou, em 1991, o Nobel por explicar porque são necessárias
organizações estáveis (eventualmente empresas) em situações deste tipo.<br />
<br />
A ineficiência dos arranjos <i>ad hoc </i>resulta
de premiarem comportamentos oportunistas cujas consequências se tornam
mais evidentes com a passagem do tempo. Uma óbvia dificuldade reside na
ausência de incentivos para providenciar formação e actualização de
conhecimentos. O médico não gostaria, por exemplo, de ensinar aos seus
colaboradores ocasionais novas técnicas que reduzissem a mortalidade
infantil, com receio de que eles fossem ensiná-las aos seus
concorrentes. Sem instituições coesas, ficam bloqueados os processos de
aprendizagem colaborativa.<br />
<br />
É, por isso, absurdo encarar-se uma
maternidade como um mero aglomerado de recursos humanos e materiais
intermutáveis, de que se pode pôr e dispor ao sabor dos caprichos de
momento. Na prática, necessitamos para assegurar partos seguros e
eficientes de instituições, como a Maternidade Alfredo da Costa, dotadas
de uma forte identidade assente em valores sólidos, crenças
partilhadas, procedimentos e métodos de trabalho consolidados ao longo
de décadas.<br />
<br />
Um amigo em tempos recrutado para uma multinacional
petrolífera foi no seu primeiro dia de trabalho questionado pela pessoa
encarregada da sua integração: "Sabe o que fazemos aqui?". "Sei,
pesquisamos, extraímos e refinamos petróleo". "Errado", troçou o outro,
"nós aqui fazemos dinheiro."<br />
<br />
Existem muitas empresas que,
implícita ou explicitamente, educam os seus colaboradores nessa ideia,
exortando-os a colaborar nas malfeitorias eventualmente exigidas por
esse propósito. Deixada à solta, esta variante de "ética empresarial"
ajudou a desencadear a crise financeira
internacional de que há cinco anos o mundo padece. Para cúmulo, algumas
pessoas que, no mínimo, conviveram pacificamente com esses princípios
de gestão no sector financeiro privado, acham-se agora no direito de
implantá-los no sector público.<br />
<br />
Instituições confiáveis, como a
Maternidade Alfredo Costa, demoram décadas a construir. Não se pode
permitir que uma facção de bárbaros engravatados destrua de uma penada a
dedicação e o esforço de gerações de profissionais justamente
orgulhosos da qualidade do seu trabalho.<br />
<br />
<b>Publicado no Jornal de Negócios </b><b>em 23.4.12 </b><br />
<i></i>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0