Nunca conheci um sistema de avaliação do desempenho que não desse lugar a resistências e recriminações. Nunca vi um que não comportasse sérios defeitos e injustiças. Nada disso, porém, desmente a sua utilidade.
O tema é árduo, especialmente tratando-se de serviços públicos complexos prestados por profissionais qualificados como a saúde ou a educação.
A avaliação surge por regra associada a incentivos concebidos para induzir comportamentos orientados para os objectivos de uma organização. A presente ausência de avaliação dos professores é consistente com um modelo de emprego garantido e progressão automática em que toda a gente chega ao topo da carreira independentemente da sua contribuição individual para a qualidade do ensino.
Um sistema assim é ingovernável, dada a quase total ausência de instrumentos que permitam conduzir a educação no sentido desejado. Precisamos, por isso, de objectivos claros, de incentivos apropriados e de uma avaliação eficaz.
Diz-se, por vezes, que os professores e as escolas são auto-motivados, e há aí uma parte de verdade. O conceito de comunidade escolar não é (embora na boca de certos dirigentes sindicais possa parecê-lo) uma ficção hipócrita. A motivação dos professores resulta em larga medida da estima dos pares, do desenvolvimento profissional e da sensação de pertença a um grupo de pessoas irmanadas num mesmo propósito – em suma, de uma cultura partilhada.
Sucede, porém, que a comunidade escolar não pode nem deve viver em roda livre. Ela tem por força que prestar contas perante os alunos, as famílias e o país (representado pelo governo) e é aqui que entra o tema da avaliação. Para que as coisas melhorem, as normas internas de auto-regulação (as únicas que agora existem) têm que ser complementadas com normas externas e depois transformadas em função delas. Não se trata de negar a importância das nomas internas, mas de retirar-lhes o carácter exclusivo de que actualmente beneficiam, visto que, na prática, a presente situação configura um predomínio dos pontos de vista e dos interesses dos professores sobre os do país que devem servir.
Diz-se, com razão, que o sistema proposto tem falhas. Por mim, encontro pelo menos duas, que, por falta de espaço, não aprofundarei: a variação do modelo de escola para escola e a ligação que nele se estabelece entre o desempenho dos alunos e o dos professores. E haverá decerto outras que desconheço.
Será isto razão bastante para interromper o processo de avaliação? Para, como alguns dizem, “parar para pensar”? De forma nenhuma. A busca do modelo perfeito é uma doença da nossa cultura empresarial e organizacional que conduz directamente à procrastinação. Esperar pela solução sem mácula para só então avançar não passa, as mais das vezes, de uma desculpa para a inércia.
As organizações progressivas adoptam na suas actividades o método de tentativa e erro, ou seja, continuamente lançam novas iniciativas, avaliam os seus resultados e corrigem o que houver a corrigir. Pelo contrário, as organizações ineptas, preocupadas em prevenir-se contra as eventualidades mais abstrusas e improváveis, evitam agir com receio do que poderá vir a suceder num futuro distante, deixando atrás de si um rasto de planos não aplicados.
A resistência dos professores à introdução do sistema de avaliação é normal e compreensível, mas o interesse colectivo deve sobrepôr-se às suas razões particulares.
O ensino atingiu um tal nível de degradação que não é possível perdermos mais tempo. Viremos a página e passemos às questões que mais interessam. Mas, primeiro, é preciso pôr a funcionar a avaliação, que é um instrumento essencial de gestão do sistema. Uma coisa de cada vez.
Generosidade
Há 21 horas
5 comentários:
Espectacular texto
RAVO!
perdão ... BRAVO!!!
E a avaliação dos alunos?Não se fala? Não é o mais importante? Porque é que pouco, raramente, ou nunca falam disso? Porque é que um aluno não pode chumbar?Nem por faltas? Porque é que o sucesso dos professores depende do comportamento arbitrário de alguns delinquentes? Sei do que falo. Não tentem inventar, não "morram" no ridículo.
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